Ciclistas em Lisboa descontentes com a Avenida da Liberdade

Os ciclistas, que circulam a 15 quilómetros por hora, convivem lado a lado com veículos que andam a 50 km/h e que os ultrapassam em tangentes de poucos centímetros

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Autocarros e bicicletas lado a lado

Pela primeira vez na sua história recente, a Avenida da Liberdade, o mais emblemático eixo viário de Lisboa, tem uma faixa para bicicletas. Mas os ciclistas não estão satisfeitos e dizem que a solução adoptada pela Câmara Municipal de Lisboa é perigosa. "Está para acontecer ali um acidente grave", alerta João Barreto, da MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta. 

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Pela primeira vez na sua história recente, a Avenida da Liberdade, o mais emblemático eixo viário de Lisboa, tem uma faixa para bicicletas. Mas os ciclistas não estão satisfeitos e dizem que a solução adoptada pela Câmara Municipal de Lisboa é perigosa. "Está para acontecer ali um acidente grave", alerta João Barreto, da MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta. 

O que está em causa é a forma como os ciclistas foram contemplados no rearranjo viário da Avenida da Liberdade, em vigor desde 16 de Setembro. Um dos principais problemas, segundo Barreto, é o facto de se terem colocado as bicicletas numa faixa estreita, junto ao corredor "bus", sem qualquer separação física.

Os ciclistas, que circulam a 15 quilómetros por hora (km/h), convivem lado a lado com veículos que andam a 50 km/h e que os ultrapassam em tangentes de poucos centímetros. "Está muito mal feito tecnicamente", afirma João Barreto. Para a MUBi, esta configuração gera graves riscos de segurança, não permitindo margem para desvios inesperados, seja das bicicletas, seja dos automóveis. Uma colisão com tal diferença de velocidades pode ser letal, segundo a associação. 

Outro perigo, sustenta a MUBi, está no chamado "gancho à direita" - a viragem dos carros que estão na Avenida da Liberdade, cruzando a faixa "bus". Preocupados antes com os autocarros e táxis, os condutores poderão não ver as bicicletas, alerta João Barreto. Para minorar este risco, seria necessário ajustar os semáforos para um funcionamento em várias fases.

Mas a solução ideal, segundo João Barreto, é outra: colocar os ciclistas nas vias laterais, onde estão agora proibidos de andar. João Barreto argumenta que ali os carros circulam a baixa velocidade e seria até possível criar uma faixa ciclável em contra-sentido. "É o sítio natural para se andar de bicicleta", diz. 

Problema entre associações?

A Câmara de Lisboa chegou a cogitar esta hipótese. O vereador Fernando Nunes da Silva, responsável pela área da mobilidade, concordava com a ideia da utilização da via lateral, mas diz que ela foi rejeitada por outra associação, a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores da Bicicleta.

"É um problema entre duas associações", afirma o vereador. Seja como for, Nunes da Silva assegura que não há incompatibilidade entre uma faixa para bicicletas e um corredor bus, lado a lado, e diz que esta é uma solução já utilizada em vários países.

"Se é compatível em todo o mundo, por que é que não seria compatível em Portugal?", indaga. A própria Federação Portuguesa de Cicloturismo rejeita, no entanto, a solução que acabou por ser adoptada, dizendo que ela se afasta da que a organização tinha proposto.

"No corredor central, é necessário um corredor segregado para as bicicletas", afirma Miguel Barroso, membro do conselho consultivo da federação, para a área da mobilidade sustentável. Tal como está, sem qualquer separação física entre bicicletas e os demais veículos, a ciclovia inspira na federação o mesmo tipo de receios do que os manifestados pela MUBi.

"Concordamos que a solução actual não funciona", diz Barroso, citando os riscos de colisão e do "gancho à direita", e acrescentando outro: "O piso está numa condição péssima". Passar os ciclistas para as vias laterais, segundo a federação, só faria sentido se houvesse condições de segurança. Andar junto a carros estacionados - que podem abrir uma porta a qualquer momento - ou a cargas e descargas cria mais riscos do que benefícios. "É uma situação muito perigosa", afirma Miguel Barroso.