Edmundo Pedro revela que recebeu armas por ordens directas de Eanes

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As armas foram distribuídas por razões políticas perante a iminência de uma guerra civil em 1975 Luís Vasconcelos/Arquivo

"É como uma catarse em relação aos momentos difíceis" e "é uma libertação", foram as duas formas usadas por Edmundo Pedro, o histórico resistente antifascista, ex-tarrafalista e antigo dirigente do PS, para explicar a importância que para si tinha a publicação do 3.º volume das suas Memórias - Um Combate pela Liberdade, onde aborda o período após o 25 de Abril, que ontem foi lançado na Assembleia da República.

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"É como uma catarse em relação aos momentos difíceis" e "é uma libertação", foram as duas formas usadas por Edmundo Pedro, o histórico resistente antifascista, ex-tarrafalista e antigo dirigente do PS, para explicar a importância que para si tinha a publicação do 3.º volume das suas Memórias - Um Combate pela Liberdade, onde aborda o período após o 25 de Abril, que ontem foi lançado na Assembleia da República.

Perante um anfiteatro do Edifício Novo cheio que nem um ovo, numa sessão que foi também uma homenagem aos seus 94 anos, Edmundo Pedro acabou por fazer uma curta intervenção com voz embargada e que foi, mais de uma vez, cortada pela emoção. Em causa estava o conhecido processo que o levou à prisão durante seis meses sem culpa formada em Janeiro de 1978, quando, em Setúbal, num armazém de uma empresa a que estava ligado, a GNR encontrou armas.

Avisado por uma sobrinha, Edmundo Pedro deslocou-se ao local, sendo aí preso. Uma atitude que ainda hoje considera que foi a correcta, pois era responsável pelas armas, apesar de ter sido então desaconselhado de o fazer: "Fui-me entregar no acto da apreensão, ao contrário do que pensava Mário Soares."

O facto foi noticiado como contrabando e chegou a ser escrito nos jornais que em causa estava também o tráfico de electrodomésticos, em particular frigoríficos. Edmundo Pedro nunca falou perante a polícia, ou seja, nunca assumiu que aquelas armas estavam a ser por si recolhidas e entregues de volta às Forças Armadas, de quem as tinha recebido, no processo do 25 de Novembro de 1975, por ordens directas de Ramalho Eanes.

Ontem, Edmundo Pedro explicou que, de facto, "bastava ter dito que Eanes as tinha dado", mas acrescentou que optou por não o fazer porque sentiu que "não o devia fazer" em relação a alguém que era então Presidente da República. E acrescentou: "Podia ter falado de outras pessoas. Mas recusei-me. Nunca tinha falado perante a polícia". E pouco mais disse, para além de explicar o que pode ser lido em pormenor no livro: que as 150 armas foram distribuídas por razões políticas perante a iminência de uma guerra civil em 1975: "Foi combinado na minha casa entre mim, Eanes e Manuel Alegre."

No livro, Edmundo Pedro relata os factos em que a sua prisão de seis meses poderia não ter durado mais de um mês, se Eanes tivesse autorizado o general Galvão de Figueiredo a testemunhar que ele estava a recolher as armas e a entregá-las.

Com uma sala repleta de figuras do PS, como Almeida Santos, Eduardo Pereira, João Cravinho, Fernando Pereira Marques, Mário Lino, Raimundo Narciso e o coronel Vasco Lourenço, o livro foi apresentado pelo vice-presidente da Assembleia da República, Guilherme Silva, pelo jornalista Luís Osório e pela antiga deputada e fundadora do PS, Maria Barroso.