No dia 14, os estudantes universitários também param
“Se o Governo fecha para alguns, nós fechamos por todos”. Fazem greve por solidariedade e por aqueles que não podem. Mas também pelo futuro e contra a precariedade no Ensino Superior
“No dia 14, não vamos às aulas.” O cartaz do movimento “Estudantes pela Greve Geral” dificilmente podia ser mais claro: eles não são trabalhadores, mas têm (muitos) motivos para protestar. E dia de Greve Geral é dia de parar: “Se o Governo fecha para alguns, nós fechamos por todos”.
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“No dia 14, não vamos às aulas.” O cartaz do movimento “Estudantes pela Greve Geral” dificilmente podia ser mais claro: eles não são trabalhadores, mas têm (muitos) motivos para protestar. E dia de Greve Geral é dia de parar: “Se o Governo fecha para alguns, nós fechamos por todos”.
Ana Júlia Filipe, finalista do curso de Arquitectura na Universidade Técnica de Lisboa e participante deste movimento de estudantes, já começou a enviar currículos para empresas fora do país. Queria ficar em Portugal, junto dos amigos e da família. Queria, pelo menos, não ser obrigada a emigrar. Mas a conversa com os colegas de curso é elucidativa e vai sempre parar ao mesmo: “A única coisa em que pensamos é o país para o qual vamos emigrar...”.
O movimento “Estudantes pela Greve Geral” tem trabalhado na divulgação da precariedade do Ensino Superior, falado com professores e funcionários, debatido formas de combater as desistências. E não são só os estudantes portugueses a associarem-se à luta dos trabalhadores: pelo menos em Espanha, em França, na Grécia e em Itália, muitos jovens já prometeram não ir às aulas no dia 14 de Novembro.
Ser estudante: missão (quase) impossível
A verdade, diz Pedro Feijó, outros dos estudantes envolvidos, é que “nem é precisa muita criatividade para encontrar razões para fazer greve”: “Os estudantes estão a deixar de poder ser estudantes”.
Num dos cartazes do movimento enumeram-se “cinco razões” pelas quais os estudantes devem fazer greve: pelo direito a estudar, pelo direito à mobilidade, pelo direito ao ensino e investigação científica pública, pelo direito ao emprego e pelo direito a ter direitos.
A greve dos estudantes universitários é também por aqueles que não podem fazer greve e em solidariedade com os trabalhadores que fazem, diz Ana Júlia Filipe, que no dia 14 não vai às aulas também pela mãe, trabalhadora numa empresa há mais de 30 anos e sem salário certo por causa das dificuldades do empregador.
Neste momento, a família da jovem de 23 anos está numa situação financeira complicada, mas mesmo assim ela não tem qualquer possibilidade de conseguir uma bolsa: “O ano passado não estava nesta situação, por isso não consigo nada.”
Eles não são trabalhadores, mas são “os futuros trabalhadores” e estudam em faculdades cada vez mais afectadas pela crise. “A administração de Nuno Crato está a ser uma desgraça para o ensino público”, lamenta Pedro Feijó, estudante de Física com 20 anos.
Nos corredores das faculdades já não é possível disfarçar o ambiente depressivo: “Há muita gente a desistir, a não poder pagar, a emigrar, a trabalhar para pagar”, conta Ana Luísa Filipe. E Pedro Feijó acrescenta: “É um ambiente de precarização da vida estudantil, as pessoas não sabem se vão poder estudar até ao fim do ano, estão assustadas”.