O comboio europeu que dá espectáculo já está em Lisboa

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As entradas são gratuitas para o comboio artístico Pauliana V. Pimentel/Kameraphoto

É no interior de vários vagões que têm vivido quase 100 pessoas, entre artistas e cientistas de diferentes países europeus, desde 20 de Setembro, quando o comboio artístico partiu de Talin, na Estónia.

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É no interior de vários vagões que têm vivido quase 100 pessoas, entre artistas e cientistas de diferentes países europeus, desde 20 de Setembro, quando o comboio artístico partiu de Talin, na Estónia.

Portugueses, polacos ou lituanos trabalharam primeiro num comboio em várias composições de madeira, mas à chegada a Portugal tiveram de se adaptar a oito vagões metálicos - um novo comboio. De Talin, trouxeram os espectáculos, diferentes em cada vagão. Há peças de teatro, concertos, instalações, experiências sensoriais e graffiti ultravioleta.

Já mais de 10 mil pessoas embarcaram nesta viagem nas paragens do Cosmic Underground em dez cidades da Letónia, Lituânia e Polónia e que agora chega a Lisboa, a 11.ª escala do projecto.

Apoiado pela Comissão Europeia, o Cosmic Underground foi inspirado no livro de ficção científica de Stanislaw Lem O Regresso das Estrelas. A história é de um astronauta que viajou para o espaço à velocidade da luz numa missão que durou dez anos - para ele. Quando volta à Terra, passaram afinal 127 anos desde que partiu e torna-se testemunha de um choque cultural numa sociedade utópica sem guerras ou acidentes.

“Foi o mesmo que se passou depois da II Guerra Mundial na Polónia e nos países sob influência da União Soviética", compara Jan Swierkowski. "Para eles, o tempo passou mais devagar do que em França, por exemplo.” O astrónomo identifica o mesmo fenómeno em Portugal na segunda metade da década de 1970, após o final do Estado Novo. E não é por acaso que os países que o comboio atravessou partilham, no fundo, a história do astronauta. A Europa estava bem diferente.

Somos todos estrelas
A viagem do Cosmic Underground tem como ambição colidir com a audiência - através da ideia de tempo, suas pressões e influência na vida, mas também com uma dose de relativização cósmica. É que as leis da física que Jan domina deram-lhe uma perspectiva filosófica: "somos estrelas num universo de milhões". “Se a minha mãe soubesse destas explicações, talvez tivesse construído a vida de uma forma diferente e não se preocupasse tanto se tinha dinheiro no banco."

É aqui que entra a arte. No comboio artístico simula-se a vida de uma estrela, desde o seu nascimento à sua explosão em supernova. Aqui os vagões são palcos, o comboio é uma nave.

Na equipa do Cosmic Underground estão também portugueses. Pauliana Valente Pimentel, 37 anos, foi convidada para fazer a documentação da viagem. Era a única fotógrafa a bordo. “Também fiz um trabalho pessoal e artístico sobre a intimidade de pessoas que fui descobrindo ao longo desta viagem. O projecto chama-se The Passenger e será apresentado mais tarde numa galeria e num livro”, explica a freelancer que trabalha com o colectivo de fotógrafos portugueses Kameraphoto.

Já Pedro Bernardo, do Museu Bernardo (um dos parceiros portugueses do comboio artístico), embarcou no Cosmic em Talin para um projecto intitulado Documentation Plataform. "A ideia é fazer um mapa da viagem do comboio de Talin até Lisboa, mas através da história de pessoas e factos históricos." O artista vai focar-se nas transformações políticas e sociais nos países de Leste, agora integrados numa "nova Europa”.

O curador Mário Caeiro, o artista plástico André Banha, João Abel e o actores Francisco Tavares e Nélson Guerreiro são outros dos portugueses neste comboio que este fim-de-semana dará espectáculo na Estação de Santa Apolónia, na linha 1, às 20h, 21h30 e 23h. Os bilhetes são grátis e devem ser levantados no átrio da estação entre as 19h e as 23h.

Depois de Lisboa, o Cosmic Underground parte para Guimarães, Capital Europeia da Cultura, e para as Caldas da Rainha com outros projectos artísticos - mas ainda sem data confirmada.

Notícia corrigida às 18h de 3/12: corrigido o nome do museu no antepenúltimo parágrafo.