Ai Weiwei dança "Gangnam Style" para provocar o Governo chinês
Se o original já é mais do que uma simples receita pop para invadir as pistas de dança e os tops internacionais – com uma mensagem sobre a alegada opulência e futilidade do estilo de vida dos jovens ricos de Seul –, o que dizer de uma versão feita por um dos mais emblemáticos opositores do regime de Pequim?
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Se o original já é mais do que uma simples receita pop para invadir as pistas de dança e os tops internacionais – com uma mensagem sobre a alegada opulência e futilidade do estilo de vida dos jovens ricos de Seul –, o que dizer de uma versão feita por um dos mais emblemáticos opositores do regime de Pequim?
O vídeo, partilhado pelo próprio artista na sua conta no Twitter, tem como título "Caonima Style" – uma referência a um animal imaginário, semelhante a uma alpaca, criado em 2009 para protestar contra a censura na Web e usado para provocar o regime chinês. O nome "Caonima" (literalmente "cavalo de lama e erva") é um jogo de palavras com a expressão "cao ni ma", que numa tradução livre do mandarim para o inglês ganha a conotação de "motherfucker" (é mais forte do que o português "filho da mãe", mas não é fácil encontrar uma expressão com a mesma carga).
A primeira vez que Ai Weiwei usou o Caonima para se expressar foi em 2009, quando publicou um auto-retrato, nu, com um boneco a tapar-lhe as partes genitais. O título dessa fotografia é "Caonima a tapar o centro", que pode também ser interpretado como uma ofensa ao Comité Central do Partido Comunista Chinês.
O "Caonima Style" de Ai Weiwei inclui excertos do vídeo original (que já ultrapassou os 530 milhões de visualizações no YouTube) e imagens com o próprio artista e amigos a imitarem a coreografia do sul-coreano PSY. Ainda antes do primeiro minuto do vídeo, Ai Weiwei tira um par de algemas do bolso e agita-as no ar, numa referência aos quase três meses em que esteve detido, entre Abril e Junho de 2011.
Ai Weiwei, de 55 anos, é uma presença recorrente nas notícias devido à oposição às autoridades chinesas – a sua detenção, no ano passado, motivou protestos um pouco por todo o mundo. Após a sua libertação, o artista e activista continuou a ser vigiado e está impedido de sair do país.
Há duas semanas, em declarações ao PÚBLICO, considerou "intolerável" a atribuição do Nobel da Literatura ao seu compatriota Mo Yan, que é visto pelos dissidentes como um autor alinhado com o regime.