Educação: a urgência da literacia digital

O ensino das tecnologias de informação nas escolas não pode passar apenas por ensinar a usar este ou aquele software. Tem de ser mais ambicioso

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TF28/Flickr

O mundo está em revolução. A tecnologia veio para ficar e está a mudar a forma como vivemos. A nossa vida é um misto de interacções e acontecimentos offline e online e acontece por intermédio da tecnologia. No entanto, não estamos a preparar as gerações mais novas para esta nova realidade onde a literacia digital é fundamental.

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O mundo está em revolução. A tecnologia veio para ficar e está a mudar a forma como vivemos. A nossa vida é um misto de interacções e acontecimentos offline e online e acontece por intermédio da tecnologia. No entanto, não estamos a preparar as gerações mais novas para esta nova realidade onde a literacia digital é fundamental.

 

Literacia digital não pode ser entendida de forma leviana. Esta capacidade não passa apenas por saber ligar o computador, conhecer as peças de hardware básicas, saber utilizar uns quantos softwares e “dar umas voltas” pela internet. A literacia digital é bem mais do que isso e não se desenvolve distribuindo computadores pelas crianças sem qualquer estratégia de ensino. Não temos de ser um Larry Page mas começa a ser urgente ser capaz de construir ferramentas digitais. O ensino das tecnologias de informação nas escolas não pode passar apenas por ensinar a usar este ou aquele software. Tem de ser mais ambicioso. No futuro, que se deve tornar em presente o quanto antes, dever-se-á ensinar conceitos mais evoluídos e transversais às tecnologias de informação, e logo a partir do 1º ciclo. Poder-se-á pensar que o 1º ciclo é demasiado cedo para este tipo de conteúdos, mas a verdade é que quase todos temos um amigo que com tenra idade fez as suas primeiras linhas de código num Spectrum ou num Amiga.

 

Há algum tempo li uma notícia sobre a abertura, em Nova Iorque, de uma escola secundária estritamente orientada para a engenharia de software porque querem estar na indústria que acreditam irá criar mais postos de trabalho do que qualquer outra até 2018. Um artigo no “The Guardian” alerta também para esta necessidade e o Secretário de Estado da Educação do Reino Unido fez, no início do ano, um discurso sobre a urgência de se implementar um programa de estudos que desenvolva competências computacionais e não apenas utilizadores de software. A literacia digital está efectivamente no topo da agenda. E nós, em que ponto estamos?

 

Dirão: “estamos em crise”. Mas a crise não nos impede de pensar. Pelo contrário, obriga-nos a fazê-lo. No entanto, este governo não pensa. Age por impulso. Não tem estratégia, tem remendos. E esta austeridade sem um plano estratégico de desenvolvimento económico combinado, não só mas também, com um projecto de educação que o sustente é apenas desenrascar. E assim, a crise virá novamente ou não será ultrapassada porque não estamos a educar gerações capazes de criar valor.

 

Sou também uma daquelas pessoas cuja principal preocupação é o futuro dos filhos. O ensino lecciona pior que há 30 anos porque ensina menos e exige menos. Porque já não se educa para a excelência e para a profissionalização mas para mostrar indicadores à Europa. Porque se desautorizou os professores e isso traduziu-se em desrespeito pela classe. Porque as linhas orientadoras estão constantemente a mudar. Porque não se pensa a médio prazo. Porque não existe um plano de desenvolvimento económico e sem isso é difícil estabelecer políticas de educação coerentes que visem a sustentabilidade do país.

 

É com muita apreensão e preocupação que penso no futuro do ensino em Portugal pois, se o presente já mostra graves deficiências no sistema, não vejo competência no governo e restante classe política para fazer as alterações necessárias para que as gerações futuras desenvolvam as competências que o futuro exige. Emigrar é cada vez mais uma hipótese porque este país tem cada vez menos capacidade para fazer das nossas crianças cidadãos e profissionais competentes, cultos e empreendedores.

 

Entretanto, para aqueles que vêem no ensino da ciência da computação desde tenra idade uma urgência, sugiro uma visita ao site da linguagem de programação Scratch, uma linguagem desenvolvida pelo MIT Media Lab que é ensinada a crianças em vários países, permitindo-lhes adquirir conceitos matemáticos e computacionais, desenvolver o pensamento criativo e trabalhar colaborativamente.