Thorpe dividiu títulos com períodos de depressão e pensamentos suicidas
"Nem a minha família sabe que passei muito da minha vida a combater o que só posso descrever como uma depressão incapacitante", lê-se num dos excertos que foram publicados na imprensa australiana do livro Este Sou Eu: A autobiografia. Thorpe, agora com 30 anos e com o objectivo de se qualificar para o Mundial de 2013, refere que escondeu a doença da família porque a encarava como uma "falha de carácter". O antigo fenómeno da natação, que ganhou o seu primeiro título mundial aos 15 anos, diz que demorou tempo a aceitar que não tinha culpa de estar deprimido.
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"Nem a minha família sabe que passei muito da minha vida a combater o que só posso descrever como uma depressão incapacitante", lê-se num dos excertos que foram publicados na imprensa australiana do livro Este Sou Eu: A autobiografia. Thorpe, agora com 30 anos e com o objectivo de se qualificar para o Mundial de 2013, refere que escondeu a doença da família porque a encarava como uma "falha de carácter". O antigo fenómeno da natação, que ganhou o seu primeiro título mundial aos 15 anos, diz que demorou tempo a aceitar que não tinha culpa de estar deprimido.
Apesar de todo o sucesso que o tornou um ícone da Austrália e do desporto mundial, Thorpe encarou a hipótese de se suicidar. "Até considerei lugares específicos e maneiras específicas de me matar, mas vacilei sempre, ao perceber quão ridículo era", admitiu o homem que ficou conhecido como "Thorpedo", citado pelo jornal Sydney Morning Herald. "Poderia ter-me matado? Olhando para trás, penso que não, mas houve dias na minha vida que ainda agora me fazem tremer".
Segundo Ian Thorpe, houve muitas ocasiões, especialmente entre 2002 e 2004, período durante o qual ganhou vários títulos, em que abusou das bebidas alcoólicas, conseguindo, contudo, esconder isso das pessoas que o rodeavam, incluindo os treinadores. "Era a única maneira de conseguir dormir. Usei o álcool como um modo de livrar a minha cabeça de pensamentos terríveis, como uma maneira de gerir as mudanças de humor - mas fi-lo sozinho", revelou, apesar de sublinhar que não era alcoólico.
Apesar da depressão, Thorpe conseguiu em 2004, em Atenas, defender o seu título olímpico nos 400m livres e acrescentar outra vitória individual (200m livres). "Não posso culpar ou usar a doença como uma desculpa para maus resultados. Consegui obter alguns dos meus melhores tempos durante alguns dos meus piores períodos. E também não foi uma reacção à vida nos tapetes vermelhos e aos discursos ou à intrusão dos media", referiu o australiano no livro.
Segundo a obra, o australiano com mais títulos (cinco) e medalhas olímpicas (nove, a par de Leisel Jones), procurou ajuda clínica a seguir aos Jogos de Sydney - evento no qual se tornou um herói para os seus compatriotas -, e passou a ser medicado.
Outro dos temas abordados na autobiografia é a especulação acerca da sua sexualidade. "Para que fique claro, não sou gay e todas as minhas experiências sexuais foram heterossexuais", assinala.
23 recordes mundiaisAntes de o americano Michael Phelps - um dos seus grandes adversários, a par do compatriota Grant Hackett e do holandês Pieter van den Hoogenband - aparecer ao mais alto nível, Thorpe foi uma das grandes figuras da natação. Em 2000, com apenas 17 anos, ganhou cinco medalhas olímpicas, três delas de ouro, nos Jogos realizados na sua cidade natal, Sydney. Um ano depois, no Japão, tornou-se o primeiro nadador da história a vencer seis provas na mesma edição de um campeonato do Mundo.
Além das medalhas olímpicas, dos 13 títulos mundiais e de vários triunfos nos Jogos da Commonwealth e nos Campeonatos Pan-Pacíficos, Thorpe bateu 23 recordes do mundo, o primeiro deles com 16 anos, antes de se retirar em 2006, com 24 anos.
Em 2011, anunciou o regresso à competição para tentar participar nos Jogos Olímpicos de Londres, mas não conseguiu o apuramento. Contudo, apesar do falhanço, não anunciou nova retirada e ainda continua no activo e com a mente centrada na qualificação para o Mundial de 2013, que se vai disputar em Barcelona.