Morreu Margarida Marante
Era licenciada em Direito pela Universidade Católica e tinha três filhos de um primeiro casamento, com o empresário Henrique Granadeiro. Fonte próxima da família disse ao PÚBLICO que Margarida Marante morreu em casa, em Lisboa.
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Era licenciada em Direito pela Universidade Católica e tinha três filhos de um primeiro casamento, com o empresário Henrique Granadeiro. Fonte próxima da família disse ao PÚBLICO que Margarida Marante morreu em casa, em Lisboa.
Um estilo marcanteLuís Marinho, actual director-geral da RTP, trabalhou e manteve uma "relação profisisonal muito próxima" com Margarida Marante durante três anos na SIC, na década de 1990. "Fui editor de alguns dos programas que a jornalista protagonizou neste canal", descreve Marinho ao PÚBLICO, acrescentando que recordará para sempre uma "excelente jornalista e uma mulher corajosa", alguém que se preparava "minuciosamente e até com alguma ansiedade" para as muitas entrevistas que conduziu em televisão.
Margarida Marante começou a carreira jornalística aos 20 anos, no semanário Tempo, tendo passado por jornais, rádios e revistas, tendo dirigido a Elle.
Na década de 70 trabalhou na RTP, conduzindo grandes entrevistas políticas. Em 1992, quando foi fundada a SIC, mudou para esta estação de televisão, onde apresentou programas como "Sete à Sexta", "Contra Corrente", "Cross Fire" e "Esta Semana". Neste período, já divorciada de Granadeiro, casou com Emídio Rangel. Em Outubro de 2001 abandonou a SIC.
Marinho recorda-se bem do carácter "incisivo" e o estilo até "agressivo" com que ela conduziu muitas entrevistas. "Admito que para muitos políticos não fosse fácil ser entrevistado por ela", refere este responsável pelos conteúdos da RTP, sublinhando, porém, que nunca houve necessidade de falar com Margarida por causa do estilo, nas reuniões de análise que se faziam a seguir às emissões.
Em 2003 regressou à TSF, estação de rádio onde já tinha colaborado, em 1991, tal como no semanário "Expresso".
Uma estrela como já não háRicardo Costa, actual director do semanário Expresso, também se cruzou profissionalmente com Margarida. Nunca trabalhou com ela na mesma equipa, porque integrava a política, primeiro como repórter e depois como editor, numa altura em que Margarida tinha a sua própria equipa para os programas que conduzia. Mas diz, em declarações ao PÚBLICO, que a antiga colega de estação é uma das pessoas a quem mais deve do ponto de vista profissional.
"Nunca trabalhei directamente com ela, mas foi ela quem me convidou para as primeiras entrevistas políticas de fundo que fiz na vida", refere Ricardo Costa, aludindo a uma série feita na década de 1990, aos líderes nacionais dos partidos de então. "Foi com ela que aprendi uma certa forma de preparar entrevistas e ainda hoje preparo as minhas entrevistas dessa forma", acrescenta o director do semanário.
Embora em 2001 tenha tido uma "zanga circunstancial" – um diferendo interno na SIC, sobre o futuro deste canal e do canal de notícias do grupo, que conduziu de resto à saída de Margarida Marante e também de Emídio Rangel, com quem Margarida foi casada – Ricardo Costa diz tê-la reencontrado mais tarde e, sem serem grandes amigos, tinham uma boa relação.
Quanto ao estilo da jornalista, Ricardo Costa defende-a. "Tinha um lado de estrela como hoje já não existe em televisão. Desenvolveu o seu estilo, tal como a Maria Elisa (Domingues, na RTP] e conquistou por direito próprio o direito de ter um estilo. Eu prefiro jornalistas que tenham o seu estilo aos que não têm estilo nenhum", prossegue, admitindo que, na fase final, Margarida tenha adoptado um estilo "mais agressivo, mais intrusivo, interrompendo mais, mas seguramente isso não era um problema. Era seguramente uma das melhores entrevistadoras".
Numa palavra: "tempestuosa"Na vida profissional, como na pessoa, Margarida Marante era "tempestuosa", diz Helena Forjaz, antiga subdirectora de programas da SIC. "Era racional mas também emocional. Numa palavra: tempestuosa, na vida como no trabalho", diz Helena, que passou pela produtora NBP e actualmente é directora de Comunicação da Media Capital, detentora da TVI.
Trabalhavam em departamentos diferentes na SIC, mas conheceram-se. "Recordarei a frontalidade dela, o marco que foi na forma de entrevistar", acrescenta Helena Forjaz ao PÚBLICO. O que distinguia as entrevistas dela? "Fazia perguntas, mas tinha opinião, e conseguia dosear essa opinião. O que é muito difícil", destaca esta antiga responsável da SIC.
Também a jornalista Manuela Moura Guedes diz ter ficado "chocada" com a morte da ex-colega. Apesar de se terem cruzado na redacção da RTP em meados da década de 1980, Moura Guedes ressalva que nunca foi próxima de Margarida Marante, mas sublinha que "a Margarida conseguiu impor-se num mundo que era de homens e, nesse sentido, foi precursora”. Recordou ainda o “enorme entusiasmo” que, segundo diz, Marante punha no trabalho que fazia. “Era combativa e, naquela altura, era quase a única jornalista que se dedicava às entrevistas políticas”, acrescenta Moura Guedes.
Para o jornalista Miguel Sousa Tavares, Margarida Marante distinguia-se pela sua “grande capacidade de preparação” do trabalho. “Apesar de ser muito boa no que fazia, como era insegura defendia-se muito com o seu trabalho e era uma pessoa muito inteligente e muito intuitiva”, adiantou.
Sousa Tavares começou a trabalhar com Margarida Marante na RTP, antes de terem transitado ambos para a SIC. “Quando a conheci, ela estava no seu auge e eu na prateleira. Embora ela fosse mais nova e tivesse a RTP e o mundo a seus pés, foi-me buscar para trabalhar com ela e devo-lhe isso”, declarou, referindo-se à ex-jornalista como “uma amiga muito leal”.
Por seu turno, Francisco Pinto Balsemão, o presidente do grupo Impresa, que detém a SIC, o Expresso e a Visão, lamentou também a morte da jornalista e disse recordar “com saudade aquilo que Margarida Marante deu à SIC nos seus tempos iniciais”.
Notícia corrigida às 11h46 e actualizada às 16h27:corrigida a idade de Margarida Marante, 53 e não 56.