Italianos e gregos trocam automóveis por bicicletas
Numa Itália deprimida depois da II Guerra Mundial, Antonio Ricci percorre as ruas de Roma procurando, desesperadamente, a bicicleta roubada de que necessita para poder trabalhar.
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Numa Itália deprimida depois da II Guerra Mundial, Antonio Ricci percorre as ruas de Roma procurando, desesperadamente, a bicicleta roubada de que necessita para poder trabalhar.
Mais de 60 anos depois de Vittorio De Sicca ter realizado esta cena no filme “Ladrões de Bicicletas”, os italianos voltaram-se novamente para este meio de transporte.
Diz o mesmo jornal inglês que o aumento do desemprego, a imposição de medidas de austeridade e o aumento do custo de vida – em Itália, um litro de combustível custa cerca de 2 euros por litro, o valor mais alto na Europa - fizeram com que, pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, os italianos comprassem mais bicicletas do que carros.
As famílias estão a comprar bicicletas, a desistir dos segundos carros e a aderir a esquemas de partilha de carros.
“Cada vez mais pessoas estão a tirar as velhas bicicletas das garagens ou das caves. São fáceis de usar e custam pouco. Em distâncias de cinco quilómetros ou menos, são geralmente mais rápidas do que outros meios de transporte”, disse Pietro Nigreli, da associação industrial Confindustria, em declarações ao Telegraph.
Mais de 10% de italianos passaram a utilizar a bicicleta para irem trabalhar ou para chegarem à escola. Numa população de 60 milhões, este valor representa 6,5 milhões de pessoas.
Em declarações ao jornal La Repubblica , Antonio Della Venezia, presidente da Federação Italiana de Amantes de Bicicletas, disse que as “pessoas que até agora só tinham conduzido carros, estão a mudar a forma de pensar”.
Num país famoso pela indústria automóvel e que, em 2009, apresentava a quarta maior taxa de posse de automóveis no mundo (cerca de 60 carros por cada 100 habitantes), um carro tornou-se um símbolo do milagre económico italiano dos anos 60 e as vendas de automóveis não pararam de crescer desde então.
Agora, a compra de carros novos desceu para valores que não eram registados desde os anos de 1970.
“Qualquer pessoa que trabalhe no sector automóvel na Europa actualmente está a experimentar vários níveis de descontentamento. O mercado automóvel europeu está um desastre”, disse Sergio Marchionne, presidente da Fiat.
Grécia também pedala maisMas não são só os italianos que estão a trocar as quatro pelas duas rodas. Em Agosto, a Reuters noticiou que os gregos também estão a adoptar a bicicleta como meio de transporte.
Vistas geralmente como sinal de pobreza ou consideradas arriscadas, as bicicletas estão a tornar-se numa alternativa para os gregos, a braços com uma grave crise económica e com elevadas taxas de desemprego.
O número de automóveis utilizados desceu 40% na Grécia. De acordo com a Reuters, esta situação está a traduzir-se numa oportunidade para alguns gregos, uma vez que a venda de bicicletas cresceu mais de 25% e a compra de equipamento de ciclismo – desde capacetes a joalheiras –, está a aumentar rapidamente.
Estima-se que pelo menos uma loja de bicicletas tenha aberto todos os meses em 2011, num forte contraste com o encerramento de muitas lojas em Atenas.
“Todos os bairros têm a sua loja de bicicletas, tal como têm a sua loja de kebabs”, disse à Reuters Giorgos Vogiatzis, um ex-ciclista da equipa nacional grega que desenha e constrói bicicletas feitas por medida.
Recentemente, Vogiatzis viu o negócio aumentar. De 40 bicicletas vendidas por ano, passou para 350.
A nova atracção dos gregos pelas bicicletas levou a que, em Atenas, se tenha começado a trabalhar num esquema de aluguer semelhante ao que existe noutras capitais europeias, como Paris.
A falta de infra-estruturas para o ciclismo na capital grega não impediu os gregos de pedalarem pela cidade, apesar dos engarrafamentos, das subidas e descidas em colinas íngremes e das estradas esburacadas.