Lémur com sete milhões de anos é, afinal, um peixe

Foto
O único fossil da espécie conhecida como lémur-sem-nariz Brian Sidlauskas/Oregon State University

Classificada como mamífero desde que foi descrita, em 1898, a espécie Arrhinolemur scalabrinii (lémur-sem-nariz) vai, finalmente, ter o seu lugar correcto entre os peixes, depois de uma análise detalhada feita por cientistas da Universidade Maimónides, em Buenos Aires, da Universidade Estatal de Oregon e do Instituto Smithsonian. Os resultados da sua pesquisa foram publicados na revista Neotropical Ichthyology.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Classificada como mamífero desde que foi descrita, em 1898, a espécie Arrhinolemur scalabrinii (lémur-sem-nariz) vai, finalmente, ter o seu lugar correcto entre os peixes, depois de uma análise detalhada feita por cientistas da Universidade Maimónides, em Buenos Aires, da Universidade Estatal de Oregon e do Instituto Smithsonian. Os resultados da sua pesquisa foram publicados na revista Neotropical Ichthyology.

“Não é raro ver uma espécie ser reclassificada num género diferente, mas não é tão frequente ver uma passar para uma classe totalmente diferente”, disse em comunicado Brian Sidlauskas, especialista em peixes do Departamento de Pescas e Vida Selvagem da Universidade Estatal de Oregon e co-autor do estudo.

A curiosa história do Arrhinolemur scalabrinii começa em 1898, quando o “caçador” de fósseis Pedro Scalabrini entregou um pequeno fóssil encaixado numa rocha ao investigador Florentino Ameghino. Num exame ao fóssil, Ameghino atribuiu-o à família Lemuridae e escreveu sobre as suas diferenças em comparação com outros mamíferos. Propôs, então, que fosse reconhecido como sendo de uma nova ordem de mamíferos bizarros, um Arrhinolemuroidea. E assim, o único exemplar de Arrhinolemur scalabrinii foi registado.

Meio século mais tarde, o cientista George Gaylord Simpson olhou de novo para o fóssil e propôs que fosse considerado, não um mamífero, mas uma espécie ainda desconhecida de peixe. Em 1986, Alvaro Mones, do Museu Nacional de História Natural da Argentina, levou a suspeita um passo mais longe e sugeriu que o Arrhinolemur scalabrinii poderia estar relacionado com uma família de peixes tropicais de água doce, a Characidae.

Em 2010, os cientistas argentinos Sergio Bogan, da Universidade Maimónides, e Federico Agnolin, do Museu de Ciências Naturais Bernadino Rivadavia, decidiram resolver a questão de uma vez por todas. Pediram os conselhos técnicos de especialistas em peixes, nomeadamente do Instituto Smithsonian, analisaram dentes e os ossos do crâneo e chegaram à conclusão que o lémur-sem-nariz é um peixe do género Leporinus, da família Anostomidae.

Os cientistas consideram que clarificar o registo deste fóssil os ajuda a calibrar a árvore da vida e a compreender melhor a biodiversidade do planeta no passado, comparando-a com a actual. Além disso, ajuda a analisar as transições evolutivas.