Um PSG "sem limites" à custa dos cheques gordos do Qatar e da organização à italiana

Foto
Ibrahimovic é um dos símbolos deste "novo" PSG Foto: Bertrand Langlois/AFP

O PSG é um clube em contraciclo no futebol francês. Enquanto boa parte dos seus adversários procura reduzir custos e vender algumas das figuras, como aconteceu no Marselha e no Lyon, os parisienses voltaram a fazer uso dos petrodólares do Médio Oriente e investiram mais de 170 milhões de euros só em reforços, num total superior a 260 milhões nos últimos dois anos. Tudo obra e graça do QSI (Qatari Sports Investment), que quer não só assegurar o domínio interno, mas também conquistar o título europeu no espaço de cinco anos. Nada de surpreendente numa organização que tem por lema We have no limits (Não temos limites).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O PSG é um clube em contraciclo no futebol francês. Enquanto boa parte dos seus adversários procura reduzir custos e vender algumas das figuras, como aconteceu no Marselha e no Lyon, os parisienses voltaram a fazer uso dos petrodólares do Médio Oriente e investiram mais de 170 milhões de euros só em reforços, num total superior a 260 milhões nos últimos dois anos. Tudo obra e graça do QSI (Qatari Sports Investment), que quer não só assegurar o domínio interno, mas também conquistar o título europeu no espaço de cinco anos. Nada de surpreendente numa organização que tem por lema We have no limits (Não temos limites).

Desde Outubro de 2011, o PSG passou a ser presidido por Nasser Al-Khelaif, um antigo craque no ténis que foi nomeado representante do QSI para a Europa. Nasser é um conselheiro do herdeiro do trono do Qatar, o xeque Al-Thani (cuja família real foi considerada pela revista Forbes como a sétima mais abastada do mundo), que numa primeira fase deu ordens de compra para 70% das acções do PSG (o restante foi adquirido nove meses depois). Mas, mesmo antes de esta situação ser oficializada, já os árabes tinham investido 70 milhões de euros no clube.

De facto, o investimento do emirado árabe no futebol tem de ser entendido à luz de uma estratégia que já dura há alguns anos e que ficou mais nítida com a vitória na corrida à organização do Mundial de 2022. É também nessa perspectiva que se percebe a aposta num PSG que, desde 1997-98, acumulou uma exploração negativa de 300 milhões de euros. Mais, a Al-Jazeera Sports, que também é presidida por Al-Khelaif, pagou 300 milhões pelos direitos televisivos da Liga francesa e consta que está a preparar um canal de desporto em França capaz de concorrer com o Canal Plus.

O PSG, que não vence títulos desde 1993-94, conseguiu assim, na época passada, um orçamento de 300 milhões, que terá sido inflacionado este ano. Numa primeira leva, chegaram vedetas como Lugano, Matuidi, Bisevac, Thiago Motta, Gameiro e Pastore, que se juntaram a Nenê, Sakho e Erding. Mas nem isso impediu o PSG de perder o título francês para o Montpellier. No último defeso, os árabes abriram ainda mais os cordões à bolsa e foram contratados craques da dimensão de Verratti (considerado o novo Pirlo), Thiago Silva, Lavezzi, Ibrahimovic e Lucas, que custou 43 milhões de euros e só deixa os brasileiros do S. Paulo em Janeiro. Só em salários brutos, incluindo o do treinador, o PSG passou a gastar 8,5 milhões por mês, mais do que o total do orçamento anual de alguns clubes gauleses.

Os sinais que têm sido dados por Nasser Al-Khelaif vão no sentido de a aposta no PSG estar para durar, o que nem sempre aconteceu em casos similares. É assim que se compreende a ideia inicial de construir um novo estádio, entretanto trocada por uma profunda remodelação do Parque dos Príncipes (já foi assinada uma parceria com o município de Paris para o investimento de 50 milhões de euros numa primeira fase). Está também prevista a assinatura de um contrato de publicidade nas camisolas com um banco do Qatar, que representará o encaixe de 100 milhões de euros/época, fórmula encontrada para ladear as implicações do fair play financeiro imposto pela UEFA a partir de 2013.

Mas os árabes não se limitaram a injectar dinheiro. Deram também vários sinais de que, para tentarem chegar ao sucesso desportivo, apostam na organização e na escola italiana. É assim que se compreende a contratação do director financeiro Jean-Claude Blanc, um francês que já esteve na base do sucesso da Juventus, do director desportivo Leonardo, um brasileiro que deixou cartel no Milan, e do treinador Carlo Ancelotti, italiano que já foi campeão europeu como jogador e como treinador. Para além disso, vários jogadores contratados ou nasceram ou jogaram em Itália - o guarda-redes Sirigu (Palermo), o defesa Thiago Silva (Milan), os médios Thiago Motta (Inter) e Verratti (Pescara) e os avançados Lavezzi (Nápoles) e Ibrahimovic (Milan).