Grande Barreira perdeu mais de metade da área de corais
“Em termos de escala geográfica e dimensão do declínio, o que se está a passar na Grande Barreira de Coral não tem precedentes no mundo”, disse à agência Reuters John Gunn, o director do Instituto australiano de Ciências Marinhas (AIMS, sigla em inglês), com sede na cidade de Townsville.
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“Em termos de escala geográfica e dimensão do declínio, o que se está a passar na Grande Barreira de Coral não tem precedentes no mundo”, disse à agência Reuters John Gunn, o director do Instituto australiano de Ciências Marinhas (AIMS, sigla em inglês), com sede na cidade de Townsville.
Os recifes de coral do planeta estão ameaçados, especialmente pelo aumento das temperaturas e da acidez dos oceanos e por tempestades mais fortes. Mas na Grande Barreira de Coral, ecossistema que se estende ao longo de dois mil quilómetros, as ameaças são mais pronunciadas, revela nesta terça-feira um estudo daquele instituto.
As conclusões da investigação resultaram de um programa de monitorização a mais de 100 recifes de coral de 1985 a 1993 e de censos anuais a outros 47 recifes. “Os nossos investigadores passaram mais de 2700 dias no mar”, disse Peter Doherty, do instituto de Ciências Marinhas.
O estudo revela que, entre 1985 e 2012, a área coberta por corais na zona de recifes diminuiu de 28% para 13,8%. “Mais de metade da área coberta por corais na Grande Barreira desapareceu nos últimos 27 anos”, comentou Doherty.
Os investigadores concluíram que intensos ciclones tropicais causaram 48% dos danos – especialmente aos corais das regiões centrais e do sul da Grande Barreira -, a predação da estrela-do-mar Acanthaster planci foi responsável por 42% - ao longo de toda a Grande Barreira - e dois episódios de branqueamento por 10%, sobretudo do Norte e Centro. A estrela-do-mar é uma espécie nativa que se alimenta dos nutrientes dos corais mas a sua população tem aumentado perigosamente. “Não podemos parar as tempestades, mas talvez possamos fazer parar as explosões populacionais de estrela-do-mar”, acrescentou John Gunn.
Normalmente, os recifes conseguem recuperar no espaço de dez a 20 anos dos danos causados por tempestades, branqueamento e pela predação da estrela-do-mar. Mas o aumento da acidez das águas – porque os oceanos estão a absorver mais dióxido de carbono do que o normal – está a perturbar a capacidade dos corais reconstruírem as suas estruturas. “De momento, os intervalos entre as perturbações (aos corais) são demasiado curtos para permitir uma recuperação total. É isso que está a causar uma perda a longo prazo”, disse Hugh Sweatman, um dos autores do estudo.
Na verdade, adiantou Doherty, “se a tendência actual se mantiver, a Grande Barreira poderá voltar a perder metade dos seus corais até 2022”. De acordo com as conclusões do estudo, “a cobertura de corais nos recifes está a diminuir de forma consistente e, sem intervenção, deverá cair entre 5 a 10% nos próximos dez anos”.
Os investigadores pedem limites às emissões de gases com efeito de estufa e os ambientalistas lembram as ameaças causadas pelo tráfego marítimo, nomeadamente exportação de carvão. No início deste ano, a organização ecologista Greenpeace estimou que até 2020, cerca de 10.000 navios de transporte de carvão poderão atravessar anualmente a Grande Barreira de Coral.
As autoridades de Queensland e o Governo australiano, que gerem em conjunto estes recifes, estão a rever a gestão dos riscos naquela área marinha, incluindo o movimento de navios e o desenvolvimento urbano.