Engenheiros só têm “oportunidades fora do país”
Queda na procura dos cursos de Engenharia são já um reflexo da "movimento de desvalorização" da área, adverte bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos
Não há saída. As portas fecharam e a procura por um lugar no mercado de trabalho supera largamente a oferta disponível. O desemprego cresce, a emigração vai a reboque. O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, fala de um “movimento de desvalorização da engenharia” e admite que a Ordem está de mãos atadas.
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Não há saída. As portas fecharam e a procura por um lugar no mercado de trabalho supera largamente a oferta disponível. O desemprego cresce, a emigração vai a reboque. O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, fala de um “movimento de desvalorização da engenharia” e admite que a Ordem está de mãos atadas.
“Infelizmente estamos numa situação em que para proteger os nossos membros temos de lhes dar oportunidades fora do país”, lamenta. A “área internacional” criada pela Ordem no seu site é a resposta possível ao momento de crise do país: há ofertas de emprego de vários países e a maior vem, actualmente, da Noruega, com cinco mil vagas.
“O país não consegue absorver tanta gente e o maior prejuízo será para ele mesmo, que investiu em pessoas e não as preserva", disse ao P3 o bastonário. A Ordem não sabe quantos engenheiros o país está a perder actualmente, mas Carlos Ramos admite que o risco maior está em cima da mesa: "Temo que estas pessoas que estão a emigrar não voltem.”
Ofertas inaceitáveis
A “desvalorização” da engenharia é generalizada - apesar de a Engenharia Civil ser a área mais afectada - e perceptível através de “algumas ofertas que apareceram no Instituto de Emprego” recentemente: “Oferecer 500 euros a um engenheiro é inaceitável num país de terceiro mundo, quanto mais num país de primeiro”.
A imagem deteriorada do sector já se fez sentir nas candidaturas ao ensino superior deste ano: a Engenharia Civil, área habitualmente muito procurada, ficou este ano com várias vagas por preencher. No curso do do Instituto Politécnico de Lisboa só foram ocupadas sete vagas das 150 disponíveis.
“Há uma descrença em relação à empregabilidade da Engenharia Civil neste momento e ninguém sabe o que vai acontecer”, justifica o bastonário.
Mas há mais explicações. A partir do momento em que todos os cursos de Engenharia passaram a exigir matemática como disciplina obrigatória para a entrada, a queda foi notória, lamenta: “Só neste país é que se consegue criar tal aversão a uma disciplina como a matemática e também a física.”
Quando Carlos Matias Ramos foi eleito bastonário havia cerca de 500 cursos de Engenharia em Portugal. Apesar de já terem diminuído (são à volta de 300), continuam a ser em número excessivo.
“São como cogumelos. E o pior é que não se adaptam, replicam cursos que já existem. É preciso criar polos fortes, reestruturar e separar claramente o que se pretende do ensino universitário do que se quer do politécnico”.
A preocupação de Carlos Matias Ramos não é apenas enquanto bastonário: “A dimensão de um pais é a dimensão da sua engenharia e tecnologia”, diz. “Não vejo estratégia porque não há desenvolvimento possível num país sem engenharia e tecnologia de qualidade.”