Sá Pinto passou a ser um treinador a prazo, com ou sem abraço da jibóia
Domingos rescindiu o contrato com o Sporting a 13 de Fevereiro (continua a receber religiosamente o ordenado, porque foi isso que ficou acordado enquanto não encontrasse novo patrão). Os dirigentes terão ficado de tal forma satisfeitos com o trabalho de Sá Pinto que, a 25 de Maio, pouco mais de três meses depois, decidiram aumentá-lo e prolongar-lhe o contrato até 2014. Mais do que isso, deram-lhe lastro suficiente para que ele se sentisse à vontade para impor na estrutura alguns nomes cuja amizade com Sá Pinto já era conhecida desde os tempos em que todos eles eram ainda futebolistas (Dominguez, Porfírio e Pedrosa) e o acompanhavam aos concertos musicais. A própria publicidade do clube passou a procurar vender a imagem do "coração de leão".
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Domingos rescindiu o contrato com o Sporting a 13 de Fevereiro (continua a receber religiosamente o ordenado, porque foi isso que ficou acordado enquanto não encontrasse novo patrão). Os dirigentes terão ficado de tal forma satisfeitos com o trabalho de Sá Pinto que, a 25 de Maio, pouco mais de três meses depois, decidiram aumentá-lo e prolongar-lhe o contrato até 2014. Mais do que isso, deram-lhe lastro suficiente para que ele se sentisse à vontade para impor na estrutura alguns nomes cuja amizade com Sá Pinto já era conhecida desde os tempos em que todos eles eram ainda futebolistas (Dominguez, Porfírio e Pedrosa) e o acompanhavam aos concertos musicais. A própria publicidade do clube passou a procurar vender a imagem do "coração de leão".
A sorte de Sá Pinto vai agora depender do que acontecer frente ao Estoril (c), FC Porto (f), Académica (c), Setúbal (f), Braga (c), Moreirense (f) e Benfica e, para a Liga Europa, frente aos húngaros do Videoton e os belgas do Genk.
O que terá mudado tão vertiginosamente para que a administração tenha concluído que o tempo de Sá se esgotou ao fim de três jornadas? Sim, porque ninguém acredita que os três jornais tenham arriscado manchetes similares (Sá Pinto está por um fio, O Jogo; Sá Pinto na corda bamba, A Bola; Sá Pinto encostado às cordas, Record) sem que os respectivos responsáveis editoriais estivessem estribados em fontes fidedignas e bem colocadas na estrutura dirigente. As justificações dadas à estampa nas edições, e noutras publicações generalistas, não variavam muito. Punham em causa os métodos, as tácticas e a liderança de Sá Pinto e, em todos os casos, era criticada a reduzida utilização de diversos jogadores. Nessa listagem constavam Insúa, Rinaudo e Viola. Todos eles foram titulares frente ao Gil Vicente...
O instinto de sobrevivência de Sá Pinto pode ou não ter estado na origem da cedência, mas não deixa de ser verdade que, do ponto de vista táctico, o Sporting já tinha abdicado da estratégia demasiado poltrona na recepção ao Basileia. Bastou, para isso, inverter o triângulo no miolo e permitir que Elias funcionasse como um médio box to box. Até aí, Sá Pinto não tinha tido suficientes pretensões criativas e o meio-campo não conseguia conectar com os avançados. Por norma, garantia apenas um domínio tedioso. Era um futebol assente nas tropas pretorianas e que perdurava submetido à nomenclatura da contemplação, sem foguetórios. Enredava-se em vícios e não tinha movimentos de rotura nem quem tocasse a corneta na zona final.
Mas a revolução aconteceu, de facto, frente ao Gil, onde o Sporting apresentou os melhores momentos que já lhe vimos esta época, apesar de ter estado a perder durante quase 70". Houve quem considerasse que a iminência da desgraça tinha unido a equipa, mas o problema não vinha sendo a falta de sentido operário, antes pelo contrário. Na base da mudança esteve o 4x1x3x2 "à Jorge Jesus", que permitiu a Izmailov ter o papel de coordenação ofensiva. Rinaudo sozinho a "6" e Viola livre nas costas de Wolfswinkel também contribuíram para tornar o futebol mais frenético e revigorizante. Mas, atenção, como já ficou provado no Benfica, esta é um desenho admissível para boa parte de uma liga portuguesa cada vez mais empobrecida, mas aventureira para os testes mais difíceis. Porque tem muita tracção à frente e porque Izmailov é demasiado light na cobertura. Isso tornará, inevitavelmente, o Sporting descompensado defensivamente frente a adversários competentes.
Independentemente das virtudes da mudança, o busílis da questão continua a ser o mesmo. Das duas uma, ou a SAD se precipitou quando renovou o contrato de Sá Pinto ou então foi incoerente quando agora decidiu deixar o cutelo sobre o pescoço de um treinador que foi deixado sozinho e entregue à sua sorte. Seja ou não verdade, como alguém disse, que os festejos com o administrador Luís Duque registados pelas câmaras sejam uma espécie de abraço da jibóia...
bprata@publico.pt