Dredd

Para a maior parte das pessoas, o Juiz Dredd é o herói de um filme esquecível da fase da travessia de deserto de Sylvester Stallone. Para o romancista inglês Alex Garland, autor de A Praia e argumentista de 28 Dias Depois e Sunshine - Missão Solar, tal como para milhões de leitores ingleses, é uma personagem de BD que faz parte do seu imaginário - e é à criação original de John Wagner que Garland se reporta no argumento que escreveu para esta segunda tentativa de filmar o juiz implacável de uma megalópole futurista pós-apocalíptica. Dredd é estruturado por Garland e pelo realizador Pete Travis (Ponto de Mira) como uma combinação desagradavelmente ultra-violenta entre Dia de Treino (um polícia veterano leva uma novata para um dia no terreno) e os westerns urbanos de John Carpenter como Assalto à 13ª Esquadra (os dois dão por si encurralados por um impiedoso gangue de traficantes de droga num imenso arranha-céus isolado do exterior). O resultado é um filme ágil, sujo, dinâmico, feio, barulhento, perturbante e arrasador, que deixa um tom amargo pela desfaçatez com que confirma o niilismo distópico e a anarquia civilizacional de uma BD que sempre transportou intacta a chama contra-cultural da revolução punk. Dredd estica quase até ao limite as convenções do género, recusa quaisquer moralizações, evita edulcorar a sua brutalidade e assume de peito feito a sua condição de série B mal-disposta, lançando um olhar brutalmente desencantado sobre um futuro distópico alarmantemente plausível. Quem quiser arriscar-se fá-lo por sua conta e risco - a resposta ao filme depende muito da coabitação com a BD - mas não diga que não avisámos: Dredd é uma trip de adrenalina que deixa azia no estômago. O que é mais do que se pode dizer, para o bem e para o mal, da concorrência formatada.

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Para a maior parte das pessoas, o Juiz Dredd é o herói de um filme esquecível da fase da travessia de deserto de Sylvester Stallone. Para o romancista inglês Alex Garland, autor de A Praia e argumentista de 28 Dias Depois e Sunshine - Missão Solar, tal como para milhões de leitores ingleses, é uma personagem de BD que faz parte do seu imaginário - e é à criação original de John Wagner que Garland se reporta no argumento que escreveu para esta segunda tentativa de filmar o juiz implacável de uma megalópole futurista pós-apocalíptica. Dredd é estruturado por Garland e pelo realizador Pete Travis (Ponto de Mira) como uma combinação desagradavelmente ultra-violenta entre Dia de Treino (um polícia veterano leva uma novata para um dia no terreno) e os westerns urbanos de John Carpenter como Assalto à 13ª Esquadra (os dois dão por si encurralados por um impiedoso gangue de traficantes de droga num imenso arranha-céus isolado do exterior). O resultado é um filme ágil, sujo, dinâmico, feio, barulhento, perturbante e arrasador, que deixa um tom amargo pela desfaçatez com que confirma o niilismo distópico e a anarquia civilizacional de uma BD que sempre transportou intacta a chama contra-cultural da revolução punk. Dredd estica quase até ao limite as convenções do género, recusa quaisquer moralizações, evita edulcorar a sua brutalidade e assume de peito feito a sua condição de série B mal-disposta, lançando um olhar brutalmente desencantado sobre um futuro distópico alarmantemente plausível. Quem quiser arriscar-se fá-lo por sua conta e risco - a resposta ao filme depende muito da coabitação com a BD - mas não diga que não avisámos: Dredd é uma trip de adrenalina que deixa azia no estômago. O que é mais do que se pode dizer, para o bem e para o mal, da concorrência formatada.