Até que o Fim do Mundo nos Separe
Quiséssemos ser mauzinhos e diríamos que a primeira realização da argumentista Lorene Scafaria é uma versão romântico-xoninhas do "4.44" de Abel Ferrara. Ou não contasse Até que o Fim do Mundo nos Separe a história dos últimos dias antes de um asteróide colidir com a Terra vistas pelo prisma de um casal improvável: dois vizinhos que decidem pôr-se a caminho para cumprir velhos desejos, ele para se juntar ao amor da sua vida que lhe virou costas na juventude, ela para arranjar maneira de ir ter com os pais. Tudo é, contudo, contado em tom de comédia romântica - ácida, seca, mas ainda assim comédia romântica, com direito às regras do género transplantadas com humor para um registo apocalíptico. Também nos lembrámos do Melancolia de Lars von Trier se não fosse tão escandinavamente depressivo e metafórico; mas o filme de Scafaria tem um ambiente próprio de fita hipster-indie americana, com Keira Knightley a ser a Zooey Deschanel “de serviço” e uma série de comediantes de ponta a sublinhar a traço grosso a sátira à sociedade americana.
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Quiséssemos ser mauzinhos e diríamos que a primeira realização da argumentista Lorene Scafaria é uma versão romântico-xoninhas do "4.44" de Abel Ferrara. Ou não contasse Até que o Fim do Mundo nos Separe a história dos últimos dias antes de um asteróide colidir com a Terra vistas pelo prisma de um casal improvável: dois vizinhos que decidem pôr-se a caminho para cumprir velhos desejos, ele para se juntar ao amor da sua vida que lhe virou costas na juventude, ela para arranjar maneira de ir ter com os pais. Tudo é, contudo, contado em tom de comédia romântica - ácida, seca, mas ainda assim comédia romântica, com direito às regras do género transplantadas com humor para um registo apocalíptico. Também nos lembrámos do Melancolia de Lars von Trier se não fosse tão escandinavamente depressivo e metafórico; mas o filme de Scafaria tem um ambiente próprio de fita hipster-indie americana, com Keira Knightley a ser a Zooey Deschanel “de serviço” e uma série de comediantes de ponta a sublinhar a traço grosso a sátira à sociedade americana.
Dito isto, tentar invocar referências é reduzir o filme a um injusto mínimo denominador comum: na sua bonomia de travo amargo e melancólico, no tom quase displicente com que pinta estas últimos dias do mundo quase como uma festa cínica e lhe sobrepõe a história de amor de duas pessoas que levaram uma vida inteira para perceber o que procuravam, está aqui uma fita muito pouco inocente, inquietantemente simpática, que esconde uma dentadura de leão por trás da carapaça de gatinho de peluche.