“Moscas no telefone” dão prémio a jovens cientistas portugueses
Os três participantes, ex-alunos do 12º ano da Escola Secundária de Arouca e agora todos já na universidade, estudaram os efeitos da radiação dos telemóveis na fertilidade do macho da mosca-do-vinagre, ou Drosophila melanogaster. Concluíram que a menor capacidade reprodutiva dos machos submetidos à radiação dos telefones não se devia à quantidade ou à qualidade dos espermatozóides, mas sim a uma alteração provocada na forma das asas dos machos.
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Os três participantes, ex-alunos do 12º ano da Escola Secundária de Arouca e agora todos já na universidade, estudaram os efeitos da radiação dos telemóveis na fertilidade do macho da mosca-do-vinagre, ou Drosophila melanogaster. Concluíram que a menor capacidade reprodutiva dos machos submetidos à radiação dos telefones não se devia à quantidade ou à qualidade dos espermatozóides, mas sim a uma alteração provocada na forma das asas dos machos.
Mariana Santos, de 18 anos e agora a estudar medicina, explicou ao PÚBLICO que a “canção de namoro” produzida pelos machos nos rituais de acasalamento sai “distorcida” quando eles são expostos à radiação dos telemóveis. Isto porque esta radiação provoca uma alteração no tamanho das suas asas. “Percebemos que as fêmeas não reconheciam o som das asas dos machos e por isso não acasalavam.”
O estudo revelou também que as moscas transmitem estas alterações aos seus descendentes e, por isso, os jovens cientistas esperam que o estudo possa ser adaptado para investigar os eventuais efeitos negativos da radiação nos seres humanos. “É preciso alertar as pessoas para a importância de conhecer os possíveis perigos do uso do telemóvel”, considera Mariana Santos.
Coordenado pelo professor Filipe Ressurreição, o projecto da escola de Arouca foi avaliado entre 79 projectos de 36 países, incluindo outro trabalho português de uma escola de Odemira. Não subiu ao pódio, mas ganhou o reconhecimento do júri pela originalidade com a atribuição de um “Prémio Especial”, que dá aos alunos a possibilidade de visitarem, durante cinco dias e tudo pago, o Gabinete Europeu de Patentes, em Munique.
Durante os quatro dias do 24º Concurso para Jovens Cientistas da União Europeia, os concorrentes, além de defenderem os seus projectos perante um júri internacional, participaram em diversos grupos de trabalho e conferências.
Nesta edição do concurso, venceram os projectos da Irlanda, da Polónia e da Áustria, mas todos os participantes já tinham obtido o primeiro prémio nos concursos nacionais dos respectivos países. Criado pela Comissão Europeia em 1989, o Concurso para Jovens Cientistas pretende estimular a cooperação e o intercâmbio entre jovens investigadores.
Mariana Santos sabe bem o que destacar deste encontro: “O contacto com outros jovens, com outras maneiras de pensar e outras maneiras de fazer ciência.” Por isso, não põe de parte a ideia de um dia se dedicar à investigação. “O bichinho fica sempre cá.”