Chris Gethard e o triunfo do desconforto

Todas as semanas, Chris Gethard apresenta um dos "talk shows" mais bizarros que há. É algo totalmente inclusivo, que faz mesmo as pessoas mais fora do mundo sentirem-se aceites. E isso é muito, muito bonito

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Chris Gethard é o meu herói. Sim, eu sei que digo isso de muita gente, mas, neste preciso momento, é verdade. E porquê? Porque ele é um tipo que conseguiu transformar uma fraqueza, o facto de ser estranho, no seu ganha-pão. Ao mesmo tempo, também torna o mundo um sítio melhor. Sistematicamente.

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Chris Gethard é o meu herói. Sim, eu sei que digo isso de muita gente, mas, neste preciso momento, é verdade. E porquê? Porque ele é um tipo que conseguiu transformar uma fraqueza, o facto de ser estranho, no seu ganha-pão. Ao mesmo tempo, também torna o mundo um sítio melhor. Sistematicamente.

 

Todas as semanas, na televisão pública nova-iorquina, ele apresenta o "The Chris Gethard Show", um "talk-show" bizarro em que há peixes humanos e mulheres a dançar com "hula hoop". É um sítio seguro, em que pessoas que o resto do mundo considera fora do normal podem ser como são realmente sem serem julgadas. E, melhor, serem acarinhadas e abraçadas. Isso é absolutamente louvável, num mundo em que, infelizmente, a imbecilidade e a cretinice ainda reinam.

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Conseguiu que P. Diddy fosse ao espectáculo dele ao vivo por o chatear demasiado no Twitter DR

 

No primeiro episódio que vi, uma miúda adolescente dos subúrbios que não se identificava com as pessoas que a rodeavam foi até Nova Iorque e conheceu todos os heróis cómicos dela. São demasiados para enumerar, mas, por exemplo, Ted Leo tocou para ela, e Tina Fey fez-lhe um vídeo. Foi bonito, tocante e, em simultâneo, hilariante (poucas coisas me fizeram rir tanto nos últimos tempos como o bilhete que Jon Glaser deixou à Alyssa, a rapariga). Ainda hoje a sigo no Twitter e esta gente toda interage com ela, tornando a existência dela bem melhor. Faz-me lembrar este vídeo de apresentação da Upright Citizens Brigade, a escola/teatro donde Gethard saiu, em que Zach Woods, que hoje pertence ao elenco d’"O Escritório" americano e aparece em filmes do Whit Stillman, diz, em adolescente, que não gosta lá muito do liceu, mas adora a UCB.

 

E não é só aí que ele é grande. O tipo também escreve muito, muito bem. Além do livro autobiográfico,"A Bad Idea I’m About to Do", sobre como não tem filtro e segue tudo o que é impulso que as pessoas normais reprimem, como ir falar com alguém no meio da rua quando isso vai dar em algo muito confrangedor – como neste vídeo – ou até perigoso, há textos dele sobre depressões, falhanço no mundo laboral e suicídio. São grandes, mas imperdíveis. E, como se isso não bastasse, também me faz feliz quando estou no cinema e o vejo, sem estar à espera, em papéis minúsculos em comédias "mainstream" como o péssimo "O Ditador" ou "Heróis de Reserva".

 

Gethard é o género de pessoa que, só por existir, pode salvar vidas. É provável que já o tenha feito. A auto-depreciação dele, mais natural que calculada ao pormenor, e sempre feita de maneira a lidar (e a pôr pessoas a rir) com acontecimentos inconvenientes e desagradáveis, é adorável. Há algo de profundamente maravilhoso na maneira como nos faz rir do que é mau. Como neste vídeo, em que ele vai para ao pé de um cartaz seu em Nova Iorque e tenta ver se as pessoas reconhecem, algo que mal acontece. Ou como neste episódio ao vivo do podcast "You Made it Weird", em que Judd Apatow diz que acabou de comprar o livro dele e Gethard pensa alto que Apatow é o tipo de pessoa que pode, se gostar, transformar o livro num filme ou numa série, e noutro vídeo, em que Gethard fala com um tipo que comentou na internet que ele era horrível em "Big Lake", a "sitcom" falhada que ele protagonizava. E ainda conseguiu que P. Diddy fosse ao espectáculo dele ao vivo por o chatear demasiado no Twitter. É por isso, e muito mais, que ele é o meu herói.