Quando os jovens emigram estão a “votar com os pés”

Com uma população cada vez mais envelhecida, a emigração de hoje dificilmente será a "sangria desatada" dos anos 60. Mas 2013 ainda será um ano de gente a sair

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A emigração é uma corrente que se vai segmentando como uma alternativa em tempos de crise @ana2vasco

O rosto fechado e um cartaz que não exige explicações extra: "Vim sozinho, os meus amigos emigraram." No dia 15 de Setembro, a mensagem passeou-se pela manifestação em Lisboa e foi o reflexo do problema de uma geração com cada vez menos oportunidades no país. Uma geração empurrada para fora e dividida - das origens, da família, dos amigos.

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O rosto fechado e um cartaz que não exige explicações extra: "Vim sozinho, os meus amigos emigraram." No dia 15 de Setembro, a mensagem passeou-se pela manifestação em Lisboa e foi o reflexo do problema de uma geração com cada vez menos oportunidades no país. Uma geração empurrada para fora e dividida - das origens, da família, dos amigos.

O problema é real e, analisando o contexto económico actual, a socióloga Margarida Marques não tem dificuldade em prever que a emigração vai continuar e que o “contingente de saídas” irá mesmo acentuar-se no próximo ano.

Não é futurologia, é factual. “As pessoas têm de fazer pela vida, quando se vêem confrontadas com situações de sobrevivência têm de agir”, diz a socióloga, que admite que há, neste contexto, um limite para as saídas, imposto pelo envelhecimento cada vez mais acelerado da população (“Os 20% com mais de 65 anos dificilmente saem”).

Travada pelo “potencial demográfico muito inferior ao dos anos 60”, a emigração dos dias de hoje dificilmente chegará à “sangria desatada” dessa época, acredita a docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Emigração: a alternativa

Não se sabe ao certo quantos portugueses estão a sair do país, para onde e em em que circunstâncias exactas. Sabe-se que a emigração é, cada vez mais, uma corrente que se vai “segmentando como uma alternativa em tempos de crise”, afirma o docente da Universidade do Porto Carlos Gonçalves.

Apesar de indicutivelmente mais qualificada do que a emigração dos anos 60, a saída continua a não ser dominada pelos quadros mais qualificados. “O que acontece é que a chamada saída de cérebros é mais impactante e mediática, custa-nos mais no fundo.” A maioria da emigração portuguesa continua a ser entre “pessoas com pouca qualificação” e a “fazer-se dentro da Europa”, acredita Margarida Marques. 

Mas a elevada taxa de desemprego entre os licenciados (são menos do que os menos formados, mas o desemprego está a crescer de forma mais rápida) pode empurrar cada vez mais este grupo de jovens para fora do país, admite: “É evidente que há pessoas que saem porque não têm cá o reconhecimento equivalente à sua formação. Um engenheiro a quem oferecem 500 euros cá e decide ir para o Brasil está claramente a votar com os pés.”

Esse é o lado doloroso da emigração, o lado de quem sai porque sente que sobra. Margarida Marques chama a atenção para o outro lado da questão: “Muitos emigram porque há um mercado que os chama e seduz e porque têm uma formação que é apetecível em termos de mercado global.”

E quem sai regressa um dia? Os dois sociólogos acreditam que sim. “A emigração não é como uma árvore que cria raízes e não tem volta”, diz Margarida. E Carlos Gonçalves corrobora, apesar da dúvida que deixa no ar: “Por intuição, vou percebendo que a maioria deseja voltar. Agora, uma coisa é isso, outra é a realidade.”