Monocle: está na hora de o mundo aprender português
Chama-lhe “Geração Lusofonia”. A “Monocle” dedicou 258 páginas a perceber o porquê de o português ser a “nova língua do poder e dos negócios”
“Está na hora do resto do mundo começar a aprender um pouco de português.” Assim remata Steve Bloomfield o editorial da edição de Outubro da revista “Monocle”, que destaca a “Geração Lusofonia” e faz uma viagem intercontinental pelos falantes de português. São 258 páginas quase exclusivamente dedicadas ao tema, naquela que é a “maior edição da revista, quer editorial quer comercial”. Afinal somos 250 milhões de lusófonos no mundo inteiro.
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“Está na hora do resto do mundo começar a aprender um pouco de português.” Assim remata Steve Bloomfield o editorial da edição de Outubro da revista “Monocle”, que destaca a “Geração Lusofonia” e faz uma viagem intercontinental pelos falantes de português. São 258 páginas quase exclusivamente dedicadas ao tema, naquela que é a “maior edição da revista, quer editorial quer comercial”. Afinal somos 250 milhões de lusófonos no mundo inteiro.
Além de visitas ao Brasil, a Angola e a Moçambique, há relatos de uma viagem a Lisboa e ao Porto, aos Açores e à Comporta, no estuário do rio Sado, passando por Coruche, onde a família Amorim continua a trabalhar na maior indústria corticeira do mundo. Álvaro Siza Vieira fala da arquitectura nacional e em tanta revista existe ainda espaço para vários “tops” da lusofonia – e Portugal (ainda) não está tão mal classificado quanto isso.
As declarações de Dezembro de 2011 de Pedro Passos Coelho, em que o primeiro-ministro sugere aos jovens desempregados e professores que emigrem para países da lusofonia, não ficaram esquecidas e a “Monocle” recupera-as. Um terço dos jovens com menos de 25 anos não tem emprego e, como destaque num texto sobre portugueses emigrantes em Angola, mais especificamente em Luanda, a atitude do primeiro-ministro é posta em causa: “Muitos [jovens] aceitaram o conselho (...) A questão é: uma vez tendo saído, será que regressam?”
De 2003 para 2011, o número de cidadãos portugueses a viver, oficialmente, em Angola subiu de 21 mil para 100 mil. Este é, para a revista internacional, um “êxodo de executivos” e abrange uma questão maior: diz tanto do quanto Angola tem crescido nos últimos anos como do “desmoronamento de Portugal”. É a “Geração Lusofonia” em movimento.
Portugal: crise e cultura lusófona
A situação económica e social que Portugal enfrenta é mencionada amiúde (mas a palavra troika não foi encontrada), sempre em contraponto com outros dois países “que estão numa liga deles mesmos”: Brasil e Angola. É que, na lusofonia, o primeiro “está a liderar o caminho” e Angola vai no seu encalço. Entra aqui, claro, a questão do Acordo Ortográfico, não fosse esta uma edição com a língua como cerne. Portugal assinou um acordo que o obriga a “aceitar um grande número de [palavras com] ortografia brasileira”.
Ainda no Atlântico, o repórter Andrew Muller faz “dez modestas sugestões” para colocar o arquipélago dos Açores no mapa (para a revista, estas ilhas são negligenciadas pelo continente). As ideias, ilustradas, têm tanto de relevante como de inusitado. Da fundação de uma Universidade da Lusofonia à criação de um estaleiro naval à semelhança dos de Viana do Castelo e da Lisnave, Muller passa para outras que até conseguem sacar uma gargalhada. “Os residentes podem precisar de ser convencidos”, escreve, mas qualquer uma das ilhas seria perfeita para a construção de uma prisão como a norte-americana de Alcatraz, desta feita para albergar condenados do Tribunal Penal Internacional.
No top das 20 pessoas ou entidades culturais da lusofonia que mais inspiram a “Monocle”, Portugal tem direito a oito. Logo o primeiro lugar é ocupado pelo colectivo de artistas Zigur, de Lamego, seguido, na quarta posição, pelo grupo Deolinda. O atelier de uma dupla de designers portugueses baseados em Macau, o Lines Lab, surge em sexto e, em sétimo, a RTP África, descrita como “a versão portuguesa da BBC”. O arquitecto português curador no MoMa, Pedro Gadanho, vem em nono. A música segue com João Barbosa, dos Buraka Som Sistema, em 12.º, e as duas últimas referências portuguesas, o colectivo de arquitectos Pitágoras e a jornalista do PÚBLICO Alexandra Lucas Coelho, ocupam os lugares 14.º e 15.º, respectivamente.
Brasil é, também, por estes dias, parte do nome de uma telenovela da TV Globo. A "Avenida Brasil" é filmada nos estúdios Projac, no Rio de Janeiro, e é o programa mais visto da televisão brasileira. Este país da América do Sul é o que tem mais dinheiro para investir em televisão, se comparado com os outros da lusofonia, bem como maior mercado (são 196 milhões de habitantes).
"Sentimos que o mundo lusófono é muitas vezes ignorado pelos outros (...) e era altura de alguém reparar", disse à agência Lusa Steve Bloomfield. A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (cuja sede, em Lisboa, é vista à lupa num dos artigos da revista) inclui, diz Bloomfield, "países que estão a crescer economicamente e onde estão a acontecer coisas fantásticas". Tudo apesar dos "problemas económicos sérios" que Portugal encara.