Vive rodeado de livros de banda desenhada e brinquedos, como se alguém tivesse dado “uma casa a um grupo de miúdos de 10 anos e lhes tivesse dito para a decorar à vontade”. Quem o diz é o luso-descendente que trabalha na Marvel e vive no Bronx, em Nova Iorque, com a mulher, Jessica, “uma geek” como ele.

Vive rodeado de livros de banda desenhada e brinquedos, como se alguém tivesse dado “uma casa a um grupo de miúdos de 10 anos e lhes tivesse dito para a decorar à vontade”. Quem o diz é o luso-descendente que trabalha na Marvel e vive no Bronx, em Nova Iorque, com a mulher, Jessica, “uma geek” como ele.

Nelson Ribeiro tem 38 anos e desde os 4 que é viciado em "cartoons" e banda desenhada (BD). Na altura, achava que os "cartoons" eram reais; hoje já não acredita nisso mas a realidade é que comandam a sua vida. Desde 2008 a trabalhar na Marvel, Nelson, nascido em Sleepy Hollow, falou, por e-mail, ao P3.

Filho de pais portugueses emigrantes nos Estados Unidos, foi graças ao primo José que leu a sua primeira BD, do Homem Aranha. “Pergunto-me se ele sabia que, nessa altura, me estava a pôr no caminho que iria definir o resto da minha vida”, diz.

Currículos em envelopes “neon”

Conhecer a Marvel, em Manhattan, era a visita de estudo preferida dos finalistas da Joe Kubert School of Cartoon Art, em Dover, Nova Jérsia, onde Nelson estudou. Quando finalmente chegou a sua vez de visitar a empresa, Nelson decidiu apostar numa manobra de "marketing": colocou um cartão de visita em cada dispensador de toalhas de papel, numa das casas de banho. A ideia era que pelo menos um dos cartões fosse parar às mãos de alguém que achasse a sua ideia brilhante e, claro, o contratasse.

Não foi bem sucedido nesta primeiro abordagem inusitada, mas tentou mais. Nelson continou a enviar currículos para a Marvel, endereçados a editores diferentes, “sempre com a mesma ideia maluca” de que alguém ia reparar no seu trabalho. Envelopes “neon”, grandes ou pequeninos, “com a morada escrita em cores diferentes, de pernas para o ar ou ao contrário”, conta. “Uma vez até pensei em enviar um currículo numa caixa de pizza!”

Apesar de ter começado a trabalhar com os Archie Comics, a Marvel manteve-se no horizonte e chegou a ser chamado para algumas entrevistas, até que finalmente foi contratado em 2008. Aceitou ainda antes de saber quanto lhe iam pagar.

Passear o Homem Aranha por Manhattan

Nos primeiros dias, Nelson nem conseguia acreditar que o seu nome e Marvel “estavam no mesmo espaço”. Logo na primeira semana conseguiu levar para casa objectos de que se queriam ver livres no escritório. “Uma das coisas que estava na pilha era uma máscara do Homem Aranha. Usei-a em casa, enquanto cantava o tema do 'cartoon' do Homem Aranha”, revela.

Há quatro anos na casa de heróis como o Capitão América, Homem de Ferro ou Wolverine, Nelson revê, por mês, mais de 10 mil páginas de “comics”. No departamento Comercial e de Projectos Especiais, onde se insere com mais seis pessoas, trabalha em 70 livros por mês.

Com tanto trabalho, não sobra muito tempo para se vestir de Homem Aranha. Mas, pelo menos uma vez por ano, no Dia de Acção de Graças, Nelson tem direito a usar o fato completo – e não só em casa. Na parada que os armazéns Macy realizam por Manhattan, os empregados da Marvel levam um balão gigante do Homem Aranha. “Já o fiz três vezes e de cada vez parece que estou num sonho.” Dá para perceber que é uma das coisas “mais fixes” deste trabalho.

Por estes dias, Nelson está a trabalhar numa reposição de 2001, “Space Knights”. “Desta vez vem com um código para 'download', para que seja possível ter uma cópia digital para um dispositivo móvel. Desta forma podes manter os teus ‘comics’ seguros em casa e ter qualquer coisa para ler enquanto estás no supermercado.”

Quando não está a trabalhar ou no supermercado a ler BD, Nelson mantém um blogue associado do site da Marvel, onde dá mostra aos fãs alguns aspectos “behind the scenes”. Veste-se de super-heróis, tira fotografias engraçadas, desenha e há pouco tempo começou a fazer cartoons próprios.