Andaluzia: seria ideal ter linces em Portugal perto de Doñana
Os mais pequenos, que nasceram entre Março e Abril, passaram os primeiros meses nas tocas e só começaram a sair, atrás das mães, em Maio ou Junho. “Neste momento, estamos em plena campanha de seguimento dos animais” por câmaras fotográficas que detectam movimento, para saber como foi esta época de reprodução na natureza, disse ao PÚBLICO Miguel Angel Simon, director ibérico do projecto LIFE Iberlince e director do plano de recuperação do lince na Andaluzia.
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Os mais pequenos, que nasceram entre Março e Abril, passaram os primeiros meses nas tocas e só começaram a sair, atrás das mães, em Maio ou Junho. “Neste momento, estamos em plena campanha de seguimento dos animais” por câmaras fotográficas que detectam movimento, para saber como foi esta época de reprodução na natureza, disse ao PÚBLICO Miguel Angel Simon, director ibérico do projecto LIFE Iberlince e director do plano de recuperação do lince na Andaluzia.
O último censo, de 2011, revelou que viviam em liberdade 312 animais, mais 37 do que no ano anterior.
“As informações são provisórias mas tudo indica que o número de crias em Doñana será semelhante ao de 2011. Na serra Morena é possível que desça um pouco porque tivemos um forte surto de febre hemorrágica viral no coelho-bravo [que faz 80% da alimentação do lince]. Em Guarrizas (Jaén) e Guadalmellato (Córdova) esperamos bons resultados”, resumiu.
Estas duas últimas regiões são as únicas seleccionadas para a reintrodução de linces em cativeiro. “Só temos estas áreas preparadas. Mas existem outras zonas com muito boas aptidões para iniciarmos as libertações, graças à qualidade do habitat e às altas densidades de coelho”, explicou o biólogo. Ainda assim, para cumprir os critérios de selecção de áreas para reintrodução, definidos pela União Mundial para a Conservação da Natureza (UICN), é preciso contar com o apoio social das pessoas que vivem nessas áreas. “Conseguir isso para Março ou Abril de 2013, data das reintroduções, será muito apertado. Em princípio, as crias de Silves irão mesmo para Guadalmellato e Guarrizas.”
Perto de DoñanaO projecto ibérico Iberlince (2011-2016) quer recuperar a distribuição histórica do lince-ibérico, criando quatro novas populações com cinco fêmeas por área em Portugal, na Extremadura espanhola, Castela-La Mancha e continuar o trabalho na Andaluzia. Segundo Miguel Angel Simon, as zonas a seleccionar “devem ter uma superfície de 20.000 hectares, com uma densidade de quatro coelhos por hectare, um habitat bem conservado e uma possível ligação com outras zonas de lince”. Assim, “idealmente deveríamos ter uma zona em Portugal próxima da zona de Doñana, que nos permita uma troca de linces entre ambas, de forma natural”. Contudo, essa ligação não será fácil porque nas áreas de ligação possíveis não há coelhos suficientes.
Os trabalhos na Andaluzia estão a ser seguidos de perto pelo suíço Urs Breitenmoser, co-presidente da UICN e presidente do grupo de especialistas em felinos daquela organização. Há três meses esteve no terreno para avaliar a possibilidade de baixar o estatuto de ameaça do lince, hoje espécie criticamente em perigo de extinção. “Esperamos ter novidades durante a primeira metade de 2013”, disse Urs Breitenmoser ao PÚBLICO. “Estamos a aguardar um relatório científico da equipa do LifeLince da Andaluzia que terá dados necessários a uma avaliação da Lista Vermelha para a espécie. Só depois, nós, no grupo de especialistas em felinos, poderemos fazer uma reavaliação”, acrescentou.
Miguel Angel Simon diz não ter pressas. “Queremos ter todas as garantias da situação real da espécie” para não haver precipitações.
Olhando para trás, o responsável espanhol acredita que o projecto de reintrodução de linces na Andaluzia, que começou em 2010, está a ser “muito positivo”. E lembra a história da Granadilla, a fêmea que foi um dos dois primeiros linces nascidos em cativeiro, neste caso em La Olivilla, a ser libertados na natureza, em Guarrizas, a 14 de Fevereiro de 2011. “Este ano, Granadilla teve quatro crias, o que confirma que os linces nascidos em cativeiro e posteriormente libertados se adaptam perfeitamente à sua nova vida em liberdade.”