Papa elogia Primavera árabe e pede erradicação do fundamentalismo

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O Papa a discursar no aeroporto de Beirute Stefano Rellandini/Reuters

Ainda a bordo do avião que o levou ao Líbano, Bento XVI, 85 anos, apelou a que acabem os fornecimentos de armas aos beligerantes na Síria, onde o conflito já provocou pelo menos 25 mil mortos, desde há ano e meio. A “importação de armas deve cessar de uma vez por todas”, afirmou, dizendo que esse é um “pecado grave”.

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Ainda a bordo do avião que o levou ao Líbano, Bento XVI, 85 anos, apelou a que acabem os fornecimentos de armas aos beligerantes na Síria, onde o conflito já provocou pelo menos 25 mil mortos, desde há ano e meio. A “importação de armas deve cessar de uma vez por todas”, afirmou, dizendo que esse é um “pecado grave”.

Citado pela Reuters, o Papa Ratzinger acrescentou que, sem armas, a guerra não pode continuar. “Em vez de importar armas, que é um pecado grave, deveriam importar-se ideias de paz e criatividade”.

À chegada ao aeroporto de Beirute, às 13h40 (11h40 em Lisboa), Bento XVI foi recebido pelo Presidente Michel Sleimane, o único chefe de Estado árabe cristão. No seu discurso, o Papa apresentou-se como “um peregrino da paz” e disse que, além do Líbano, visitava também “simbolicamente” todos os países da região. E acrescentou que estava ali “como um amigo de todos os habitantes de todos os países da região, qualquer que seja a sua pertença”.

O Papa acrescentou que “a convivência feliz de todos os libaneses deve demonstrar a todo o Médio Oriente e ao resto do mundo que, dentro duma nação, pode haver colaboração entre as diversas Igrejas – todas elas membros da única Igreja Católica – num espírito de comunhão fraterna com os outros cristãos e, ao mesmo tempo, a convivência e o diálogo respeitoso entre os cristãos e os seus irmãos de outras religiões”. O equilíbrio libanês, “que é apresentado em toda a parte como um exemplo, é extremamente delicado”, acrescentou Ratzinger.

Vários destes temas são retomados na exortação apostólica que o Papa assinou à tarde, em Harissa, a norte de Beirute. O documento surge na sequência do Sínodo dos Bispos sobre o Médio Oriente, realizado há dois anos, em Roma. Na Ecclesia in Medio Oriente (A Igreja no Médio Oriente), o Papa faz um apelo a que o “pequeno rebanho” de 15 milhões de cristãos que vivem nos 17 países da região aí permaneça, não cedendo à tentação do êxodo que se tem verificado nas últimas décadas: “Não temais, porque a Igreja universal vos acompanha com a sua solidariedade humana e espiritual”, disse o Papa, no discurso em que apresentou o documento, segundo a versão disponível no site do Vaticano.

De acordo com a AFP, que teve acesso ao texto já assinado pelo Papa, o documento fala da presença ancestral dos cristãos como “parte integrante” do Médio Oriente, da necessidade de uma “sã laicidade” e da recusa da violência e de um “Médio Oriente monocromático”.

O texto refere ainda a importância de acolher os refugiados cristãos e os imigrantes, bem como na importância da gestão “transparente” das finanças das diferentes igrejas católicas – várias igrejas com autonomia mas em comunhão com o Papa estão presentes nos países da região.

No seu discurso, Bento XVI exprimiu a sua solidariedade com todos os cristãos da região, pedindo-lhes que não deixem os seus países: “Como não dar graças a Deus a todo o momento por todos vós, caros cristãos do Médio Oriente (…). Convido-vos a todos a não ter medo, a permanecer na verdade e a cultivar a pureza da fé.” Já no documento, de acordo com a AFP, o Papa escreve que o fundamentalismo “quer tomar o poder, por vezes com violência, sobre a consciência de cada um e sobre a religião por razões políticas”.

O Papa, cita ainda a AFP, lança um apelo urgente a “todos os responsáveis religiosos judeus, cristãos e muçulmanos da região, a fim de que procurem, pelo seu exemplo e pelo seu ensino, trabalhar para erradicar esta ameaça que toca indistintamente e mortalmente crentes de todas as religiões”.

As incertezas económico-políticas, bem como a “habilidade manipuladora de alguns e uma compreensão deficiente da religião” são, segundo Bento XVI, o caldo de cultura para o fundamentalismo religioso.