Portugal tem 22 mil designers e isso é uma “completa loucura”
O presidente da Associação Portuguesa de Designers já viu profissionais com sacos de cimento às costas e critica o excessivo número de licenciados na área. Criação de uma Ordem pode ser uma das soluções
Designer desde 2008, quando terminou o curso na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), José Eduardo Carvalho decidiu fazer greve de fome até conseguir trabalho ou até chegar à fala com Pedro Passos Coelho. Esteve na rua de Santa Catarina, no Porto, desde a manhã do dia 10 de Setembro, até esta quarta-feira, 12. Não comeu “por um emprego e um futuro digno” e já teve ofertas profissionais entretanto.
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Designer desde 2008, quando terminou o curso na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), José Eduardo Carvalho decidiu fazer greve de fome até conseguir trabalho ou até chegar à fala com Pedro Passos Coelho. Esteve na rua de Santa Catarina, no Porto, desde a manhã do dia 10 de Setembro, até esta quarta-feira, 12. Não comeu “por um emprego e um futuro digno” e já teve ofertas profissionais entretanto.
A precariedade dos profissionais do design em Portugal viu-se no centro do debate mais abrangente sobre a situação do país. Nuno Sá Leal, presidente da Associação Portuguesa de Designers (APD), sabe que os jovens designers vivem uma situação de tremenda “frustração” e não traça um retrato favorável.
Não existem muitos dados estatísticos relativamente aos profissionais, mas os que se conhecem são significativos. Há cerca de 22 mil designers em Portugal o que, para o presidente da APD, é uma “completa loucura”. Desses, a maior parte centra-se em torno das cidades de Porto e de Lisboa, mas é impossível saber quantos estão a trabalhar e quantos estão desempregados.
Nuno Sá Leal já viu designers, licenciados antes ou depois da entrada em vigor do Tratado de Bolonha, a carregar sacos de cimento em grandes superfícies comerciais. “Estamos a criar técnicos altamente qualificados para não fazerem o trabalho que lhes compete”, reflecte.
“Todos nós temos de sobreviver, tomos temos de comer, como o colega que se encontra na rua de Santa Catarina”, diz Nuno Sá Leal, que não conhece José Eduardo Cardoso mas entende as suas frustrações. “Se foi aluno da FBAUP, sendo esta uma das melhores faculdades do país e da Europa, ele tem de ser um bom profissional, de certeza. Como é que ele não tem emprego?”, questiona-se, repetidamente, o presidente da APD.
À Associação Portuguesa de Designers chegam inúmeros relatos de casos como o de José Eduardo que não chegaram a uma luta tão extremada. Nuno Sá Leal garante que nada podem fazer quanto a isso. “Nós [em Portugal] temos um belíssimo trabalho. Apoiem-nos.”
O caminho para tentar inverter esta situação passa pela criação de uma Ordem profissional, à semelhança do que existe com advogados, engenheiros ou arquitectos, uma vez que as associações que actualmente existem não são de inscrição obrigatória.
A Ordem vai “dar ordem àquilo que está na plena desordem e, de uma vez por todas, mostrar ao país”. “Não é uma aspirina”, sublinha Nuno Sá Leal; é “um motor violentíssimo da economia”.
Na APD têm “tudo preparado, tudo feito” para a concretização de uma Ordem dos Designers, apenas falta uma “coisa extremamente importante”, obrigatória por lei, e extremamente cara: um estudo de uma entidade independente. “Como é que faço esse estudo, caro, se apenas meia dúzia dos 22 mil designers pagam quotas de 90 euros por ano?”.
Texto alterado às 11h09 de 13 de Setembro para corrigir valor da quota da Associação Portuguesa de Designers