Sérgio começou a programar aos oito anos num Spectrum e agora ninguém o pára
É programador mobile e nunca conheceu a palavra desemprego. Pelas suas mãos passaram "apps" como a da Optimus D'Bandada, MoveOporto e SCUTS. Dica: aprendam fora da faculdade
Enquanto a maioria dos miúdos passava os dias à frente da televisão sem se separar da consola, Sérgio Oliveira também não descolava dos jogos, mas de forma ligeiramente diferente. “Comecei a programar aos oito anos.” Oito? Como assim? “A brincar num ZX Spectrum e num Commodore 64 dos meus pais. Existiam uns almanaques que traziam código para criar jogos nesses sistemas. Eu digitava essas linhas e ia vendo os resultados. Era fascinante.”
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Enquanto a maioria dos miúdos passava os dias à frente da televisão sem se separar da consola, Sérgio Oliveira também não descolava dos jogos, mas de forma ligeiramente diferente. “Comecei a programar aos oito anos.” Oito? Como assim? “A brincar num ZX Spectrum e num Commodore 64 dos meus pais. Existiam uns almanaques que traziam código para criar jogos nesses sistemas. Eu digitava essas linhas e ia vendo os resultados. Era fascinante.”
Anos depois, quando toda a gente fazia competições de Snake nos Nokias à hora do almoço, Sérgio entretinha-se a fazer outras coisas. “Versões minhas do Snake, do Tetris, jogos que eu conhecia e que tentava implementar no telemóvel e mini-utilitários.” Começava assim o “bichinho” por dispositivos móveis, que, aliás, continua a crescer. “Sempre fui pedinchando à minha mãe os telemóveis que saíam. Cada vez que tinha um novo, pensava ‘como é que eu posso meter coisas aqui dentro?’”
Lembra-se, por exemplo, que aos 16 anos, como auto-didacta, desenvolveu um mini-utilitário para o seu Ericsson. “Na altura não era uma aplicação; era uma espécie de site formatado para dispositivos móveis só com caracteres de texto”, recorda. A banda larga entrava lentamente em Portugal (“larga” como quem diz: 256kbps ou 512kbps) e Sérgio quis aproveitar os tempos mortos. “Desenvolvi um para controlar remotamente o computador de casa. Estava na escola e, à medida que os downloads iam terminando, eu iniciava novos a partir do telemóvel.”
Já na faculdade (estudou Engenharia Multimédia no Instituto Superior de Tecnologias Avançadas), teve de desenvolver um "software" para controlar elevadores. “Desenvolvi para ‘desktop’ e pensei que seria porreiro era ter aquilo no telemóvel.” Dito e feito. Para “aprender” e “ver como ficava”, fez a versão “mobile” e implementou-a no telemóvel — não, não contava para a disciplina.
Nenhuma empresa lhe perguntou o curso
Não sabemos quantos telemóveis é que a mãe de Sérgio lá lhe terá oferecido, mas parece que o investimento deu bons frutos. Com 27 anos, nunca conheceu a palavra desemprego. Há três anos, começou, primeiro em "part time", a fazer alguns trabalhos enquanto programador mobile.
Hoje trabalha na AppGeneration, uma das mais conceituadas empresas portuguesas da área. Pelas linhas de código de Sérgio, passaram, por exemplo, aplicações como as do Optimus D’Bandada, que já está disponível na App Store e no Google Play, e do Optimus Primavera Sound, mas também quizzes de vários países, um simulador do preço das antigas SCUT (a primeira que fez para iPhone) e também a MoveOporto, um projecto pessoal, quase uma carta de amor “geek” à cidade, que irá ser retomado em breve.
Para além de programador, considera-se também designer. “Acho que sou um híbrido. Apesar do design não ser a minha especialização, tento pôr, sempre que é possível, o meu cunho pessoal. Têm de estar tudo ligado. O design tem de ser bonito e funcional.”
Na área "mobile" “não faltam oportunidades”, diz. “Nunca senti crise. Há muitas empresas à procura de talentos e não os encontram.” Agarrando-se à sua experiência pessoal, atira um conselho a futuros programadores. “A faculdade é importante, fala-se muito em teoria, mas nunca nos prepara para o mercado ideal. Considero que apenas 40% da minha aprendizagem foi lá, o resto foi em casa.” Como estudava durante a noite, trabalhava em part-time durante o dia, fazendo sites (já fez mais de cem), “aprimorando técnicas” e aumentando o portefólio. “Investir em aprendizagem própria” é, diz, uma saída. Até porque nunca nenhuma empresa lhe perguntou o curso, nem nunca lhe pediu um diploma. “Perguntam ‘o que é que já fizeste?’. E eu mostro.”