Ovelha Negra, há quem troque os bares pelo tricô
“Só de vez em quando é que reparamos que há montes de malta lá fora a espreitar”, diz Joana Nossa, ex-bailarina e proprietária da Ovelha Negra, no Porto
Entre restaurantes, bares e transeuntes de copo na mão, há na noite do Porto quem prefira pegar em agulhas e linha e tricotar pela noite dentro, à vista de toda a gente e em prol do convívio e aprendizagem. Juntam-se nas primeiras quartas-feiras de cada mês na Ovelha Negra, uma loja dedicada ao tricô que abriu em 2009 na rua da Conceição e que desde que promoveu estes encontros tem suscitado as atenções e sorrisos de milhares de pessoas que percorrem a noite e reparam na montra iluminada, com gente a tricotar.
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Entre restaurantes, bares e transeuntes de copo na mão, há na noite do Porto quem prefira pegar em agulhas e linha e tricotar pela noite dentro, à vista de toda a gente e em prol do convívio e aprendizagem. Juntam-se nas primeiras quartas-feiras de cada mês na Ovelha Negra, uma loja dedicada ao tricô que abriu em 2009 na rua da Conceição e que desde que promoveu estes encontros tem suscitado as atenções e sorrisos de milhares de pessoas que percorrem a noite e reparam na montra iluminada, com gente a tricotar.
“Só de vez em quando é que reparamos que há montes de malta lá fora a espreitar”, diz à Lusa Joana Nossa, ex-bailarina e proprietária da Ovelha Negra, explicando que “as pessoas sentem curiosidade, fazem perguntas e sorriem.” Se a componente didáctica foi o propósito inicial destes encontros mensais, Joana Nossa admite que cedo se transformaram num “pretexto para tricotar em conjunto”, sobretudo porque “tricotar pode ser uma actividade extremamente solitária”.
“Devo confessar que desde que isto começou é o convívio que tem prevalecido. Como já existem outros "workshops" na Ovelha Negra, que estão mais focados em ensinar as técnicas, as pessoas aqui acabam por descontrair e convivem mais do que tricotam”, admitiu à Lusa a proprietária. Nestas tertúlias de tricô convivem sobretudo mulheres, de todas as idades, mas Joana Nossa garante que se antigamente “havia a ideia de que o tricô estava associado aos lavores e ao universo doméstico feminino”, hoje em dia “não se pode dizer que isto seja o tricô da avozinha.”
“É o tricô de todos. É totalmente ecléctica, a minha população daqui”, brincou. Esta “população” do tricô nocturno é ecléctica ao ponto de contar até com estudantes do Nepal, como no caso de Sabin Shrestha, de 24 anos e residente em Lisboa, ainda que esteja no Porto em lazer, agora que terminou os estudos de Turismo, em Londres.
“Eu só estava aqui de visita, mas gostei tanto do que vi que fiquei por cá. Assim que vi esta loja, entrei e perguntei se podia participar, porque queria fazer algo diferente e aprender algo de novo. E aqui somos todos muito amigos e todos me ajudam muito e encorajam-me a aprender mais”, explicou o estudante.
"Um convívio fantástico"
Já Joana Borges, de 33 anos e desempregada na área da comunicação, frequenta os serões da Ovelha Negra para “aprender a tricotar num espaço muito agradável”, enquanto tira partido de “um convívio fantástico”. Joana Nossa decidiu criar a Ovelha Negra quando percebeu que “havia poucos espaços onde se pudesse adquirir os materiais, fios naturais e agulhas de um género que não fosse o clássico que existe noutras retrosarias”, pelo que considerou que “devia haver um espaço onde isso acontecesse no Porto”.
“Há coisas muito específicas em Portugal, desde o facto de tricotarmos com a linha à volta do pescoço, às chamadas agulhas de barbela, típicas do norte do país e que têm um gancho característico, para o qual até se desenvolveram técnicas únicas”, conta a proprietária.
“Comecei a tricotar aos oito anos, a mesma idade com que comecei a dançar”, recordou Joana Nossa, para quem a montra que mensalmente ilumina com círculos de tricô teve o benefício de atrair nova clientela à loja que abriu há três anos e cujo negócio vai “de vento em popa”. “Começamos como um cordeirinho”, conta a ex-bailarina, “agora já somos Ovelha Negra”.