Eleições decorreram com normalidade em Angola apesar de ameaça de impugnação da UNITA

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José Eduardo dos Santos votou em Luanda e pediu aos angolanos que renovassem a sua confiança no MPLA Stephane de Sakutin/AFP

As mesas de voto encerraram às 18h, a mesma hora em Lisboa, e a contagem dos votos começou pouco depois. O Presidente José Eduardo dos Santos, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder há 33 anos, deverá ser reeleito, mas só na próxima semana serão conhecidos os resultados definitivos.

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As mesas de voto encerraram às 18h, a mesma hora em Lisboa, e a contagem dos votos começou pouco depois. O Presidente José Eduardo dos Santos, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder há 33 anos, deverá ser reeleito, mas só na próxima semana serão conhecidos os resultados definitivos.

O líder da UNITA, principal partido da oposição, Isaías Samakuva, avisou logo após ter votado em Talatona, cidade a 20 quilómetros de Luanda, que o seu partido vai apresentar uma queixa para impugnar o sufrágio, devido "às muitas irregularidades". "A Comissão Nacional Eleitoral não entregou credenciais a mais de 2000 dos delegados do nosso partido para observarem o sufrágio, e isso faz com que a UNITA não possa assegurar a veracidade dos resultados da votação em mais de mil mesas apenas na província de Luanda", denunciou.

Na véspera da votação, pelo menos seis activistas da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA- CE), criada pelo dissidente da UNITA Abel Chivukuvuku, foram detidos em Luanda, alegadamente quando arrombaram a sede da Comissão Eleitoral para reclamar credenciais de monitores — segundo explicou à Reuters o líder da coligação, William Tonet, das 6850 credenciais requisitadas, só foram atribuídas 3000, o que impedia a presença em milhares de assembleias de voto.

Um dia antes a UNITA tinha apresentado uma reclamação idêntica. Isaías Samakuva passou toda a campanha a denunciar a impreparação e a incapacidade da Comissão Nacional Eleitoral em garantir a transparência do processo e a legitimidade dos resultados. E mesmo à saída da sua assembleia de voto, ainda não estava convencido. “Cumpri com o meu dever, mas não estou nada satisfeito com o processo eleitoral”, declarou, ameaçando pedir a impugnação dos resultados assim que a Comissão Nacional Eleitoral anuncie a contagem.

José Eduardo dos Santos, por outro lado, pediu aos angolanos que renovassem a sua confiança nele e no MPLA. “Peço a todos os angolanos que exerçam o seu direito de voto, tal como eu fiz, para desenvolver a nossa democracia”, disse à saída da sua assembleia de voto em Luanda. Em 2008, sete anos após o fim de uma guerra civil que se prolongou por 27 anos, o seu partido obteve 82% dos votos, e 191 dos 220 lugares no Parlamento.

Durante a votação não houve notícias de distúrbios, mas foram detectadas algumas irregularidades. Elias Isaac, membro de uma ONG sul-africana que monitorizou as eleições, contou à AFP que “houve muita gente que não votou porque o seu nome não estava nas listas eleitorais”.

O chefe da missão de observadores da União Africana que acompanhou as eleições, o antigo presidente cabo-verdiano Pedro Pires, considerou que a organização do escrutínio foi “satisfatória”.

O controlo por parte do MPLA sobre as instituições de Estado, assim como da maior parte dos media no país, deu claras vantagens ao partido no poder nestas eleições que disputou com a UNITA e mais sete outras coligações e partidos de menor expressão.

Naquele que é o segundo maior produtor de petróleo em África, a pobreza e as desigualdades foram dos temas mais abordados pela oposição que tem denunciado o facto de a riqueza proveniente do petróleo beneficiar apenas uma pequena elite, enquanto mais de metade da população vive na pobreza.

David Mongo, de 37 anos, votou em Luanda e contou à AFP que mudou de opinião desde as últimas eleições. “Em 2008 dei o meu voto a um partido, mas nada mudou. Agora, este ano, vou votar por outro candidato.”