“CAIS Recicla” lixo em peças de eco-design

Na oficina da CAIS, no Porto, os desperdícios industriais são reaproveitados para darem forma a novos produtos e a novas vidas

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Há blocos de notas feitos a partir de embalagens, lápis “Vestidos”, sardinhas “porta-chaves” e candeeiros e guarda-sóis aproveitados de garrafas plásticas. 

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Há blocos de notas feitos a partir de embalagens, lápis “Vestidos”, sardinhas “porta-chaves” e candeeiros e guarda-sóis aproveitados de garrafas plásticas. 

Tudo feito com materiais desperdiçados pela UNICER, sobre os quais, o projecto “CAIS Recicla”, criado em Maio do ano passado, transforma em peças de eco-design com uma nova utilidade.

Através desta iniciativa, a associação de solidariedade social, em parceria com a empresa de bebidas, pretendem apoiar a capacitação e a inserção social de pessoas em situação de pobreza ou exclusão social.

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A Sardinha em lata é produzida a partir de latas de cerveja desperdiçadas pela UNICER DR

Tem sido uma “experiência é muito boa", admitem Cristina e Maria do Carmo, as artesãs da oficina do “CAIS Recicla”, no Porto. “Acaba por ser uma terapia porque descontrai e é quase como um puzzle que vamos construindo e, como com os lápis, se faz uma nova "roupagem", afirma Cristina. Aqui “esquecem os problemas, as tristezas, conversam, criam amizades e riem”, explica a coordenadora do projecto, Sandra Ramos, salientando a importância de haver “uma ocupação, algo que lhes de prazer”.

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Os guarda-sóis feitos de fundos de garrafas de plástico estiveram em exibição no Serralves em Festa, em 2011 DR

“O objectivo foi criar as peças, pensar, reutilizar os desperdícios industriais e dar formação aos utentes” para a produção dos artigos, explica a designer de “Bicho Sete Cabeças”, Madalena Martins, colaboradora da iniciativa.

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Os blocos de notas da Colecção Escamas são inspirados nas casas portuguesas em ardósia DR

Do lápis “Vestido” à “Sardinha em lata”

Os blocos de notas, da “Colecção Escama”, reaproveitados de embalagens de cartão de cerveja, são manufacturados através da técnica de escama de peixe que é “inspirada nas fachadas das casas portuguesas, forradas a ardósia”, explica Madalena Martins.

Já os lápis “Vestido” resultam de material desperdiçado da empresa portuguesa, Viarco, e de rótulos descontinuados de cerveja da UNICER. O mesmo conceito “é replicado para outras entidades”, refere, como é o caso da reutilização dos postais de divulgação de Serralves e da Capital Europeia da Cultura 2012, e dos alfinetes e imãs, em forma de guitarra, para o festival “Super Bock, Super Rock”.

“É uma forma de reaproveitar desperdícios das instituições, ao mesmo tempo que tem o lado social”, justifica a designer. Além disso, “os produtos são únicos e personalizados”.

Depois há as “Sardinhas em lata” e os “Bacalhaus de Portugal”, feitos a partir de latas de cerveja, cada qual com um conceito diferente. "E vou contando essas histórias com elas [as artesãs], ao mesmo tempo que lhes dou formação”, conta.

Da autoria da designer Gabriela Gomes foram expostos, no ano passado, guarda-sóis feitos a partir de fundos de garrafas de plástico, aquando o evento “Serralves em Festa”.

Por vezes há necessidade de recorrer a empresas externas “para acelerar o processo”, sobretudo no corte do material, explica Sandra Ramos, mas depois tudo o resto é produzido na oficina.

“São muito perfeccionistas”, garante Madalena Martins, para quem o projecto “CAIS Recicla” representa a união do lado social e do lado criativo. “Primeiro, sentimos que estamos a ajudar alguém a reconstruir uma vida nova”, e depois, “como designer, existe muito entusiasmo da forma como as coisas são produzidas”, revela.

Com rigor e “muita delicadeza”, os produtos resultam numa “reciclagem limpa e de qualidade”, para que cheguem às lojas especializadas.

Os produtos estão à venda online e em algumas cidades do país, entre as quais, Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Guimarães, Ponte de Lima e, em breve, Coimbra e Viseu.