Do nosso tempo
No papel, a ideia de um remake do "Desafio Total" original de 1990 (Philip K. Dick revisto pelo holandês tresloucado Paul Verhoeven à medida de Arnold Schwarzenegger) é mais uma daquelas más ideias de Hollywood. É por isso que a surpresa é tanto maior ao ver Len Wiseman ("Die Hard 4.0", 2009) a safar-se muito a contento da encomenda, com uma série B despachada e engenhosa, pontuada por eficazes sequências de acção.
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No papel, a ideia de um remake do "Desafio Total" original de 1990 (Philip K. Dick revisto pelo holandês tresloucado Paul Verhoeven à medida de Arnold Schwarzenegger) é mais uma daquelas más ideias de Hollywood. É por isso que a surpresa é tanto maior ao ver Len Wiseman ("Die Hard 4.0", 2009) a safar-se muito a contento da encomenda, com uma série B despachada e engenhosa, pontuada por eficazes sequências de acção.
À imagem do original, este "Desafio Total" é um filme do seu tempo, trocando o excesso trash e imperfeito do Verhoeven por um objecto mais certinho e bem acabadinho mas que parece surpreendentemente feito à medida dos anos do movimento #occupy. Die Hard 4.0 reflectia os receios do “terrorismo doméstico”, aqui fala-se de uma revolução dos “99%” contra os “1%” que impõem uma ordem estabelecida, numa metáfora do imperialismo económico opressor das massas transferida para uma Terra devastada pela guerra química, onde a “Federação Britânica” controla com mão de ferro a “Colónia” dos antípodas que lhe fornece a mão-de-obra. Sim, Desafio Total é um filme abertamente derivativo - a cenografia espectacular de Patrick Tatopoulos está a meio-caminho entre as tecno-distopias do Blade Runner de Ridley Scott e do Relatório Minoritário de Spielberg - mas isso acaba por ser apropriado para um filme que, girando à volta das memórias suprimidas de um agente secreto em missão infiltrada, funciona precisamente como “manta de retalhos” de memórias (ler: filmes) anteriores. O que, se não o torna superior ao vale-tudo de Verhoeven, faz dele bem mais do que um simples remake desalmado e calculista.