Ateliermob está a trabalhar no bairro PRODAC e vai à bienal de Veneza por isso
Representa Portugal no prémio Future Cities, cujo vencedor vai ser conhecido na Bienal de Veneza. Querem contornar a crise e recuperar o PRODAC, em Lisboa
A crise precisa dos arquitectos e o Ateliermob não tem medo da crise. O diagnóstico é convicto: “Neste momento, há um processo que, ao contrário do que se pensa, é de mobilidade e não de estagnação”. Tiago Mota Saraiva, um dos sete arquitectos que constituem o atelier lisboeta, lança um dado estatístico para sustentar a ideia: “No primeiro semestre deste ano, 18 famílias entregaram as suas casas ao banco”.
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A crise precisa dos arquitectos e o Ateliermob não tem medo da crise. O diagnóstico é convicto: “Neste momento, há um processo que, ao contrário do que se pensa, é de mobilidade e não de estagnação”. Tiago Mota Saraiva, um dos sete arquitectos que constituem o atelier lisboeta, lança um dado estatístico para sustentar a ideia: “No primeiro semestre deste ano, 18 famílias entregaram as suas casas ao banco”.
Tempos de crise impõe mais presença dos arquitectos, mas “o problema é que as pessoas não têm dinheiro para pagar.” O projecto “Working with the 99%” juntou diagnóstico e problema e apresentou um caso de estudo do Bairro PRODAC, em Lisboa, cujo objectivo é desenvolver um processo de licenciamento das casas. Graças a esta iniciativa, está entre os dez finalistas do prémio Future Cities – Planning for the 90%, cujo vencedor vai ser anunciado na XIII Bienal de Veneza, que decorre entre 27 de Agosto e 1 de Setembro.
Construído pelos moradores há cerca de 40 anos, o bairro, que conta com quase 600 famílias, reclama há muito tempo a propriedade das suas casas. Com financiamento do programa BIP-ZIP garantido para a recuperação da zona norte, os arquitectos do Ateliermob estão já a trabalhar em Chelas. Para a zona sul, estão ainda a estudar formas de financiamento (crowdfunding está na lista).
Moradores do PRODAC estão a aderir
Reuniões com a associação de moradores, detecção de eventuais riscos e problemas a solucionar. “A nossa lógica é fazer o levantamento de todas as casas, organizando de forma participada, com a população, todo o processo", explicou Tiago Mota Saraiva. Em cerca de três semanas – e num período em que muita gente está de férias – mais de metade das pessoas já se inscreveram para participar no processo, que tem um preço quase simbólico para os habitantes.
Até Fevereiro, o diagnóstico do atelier, aberto desde 2005, estará na Câmara Municipal de Lisboa. O passo seguinte será, obviamente, pôr o projecto no terreno. Mas isso é outra conversa. Para já, há também um documentário a ser gravado por Joana Cunha Ferreira e João Rosas, que estão a acompanhar o processo de perto.
O que a crise diz aos arquitectos do Ateliermob é que “não há dinheiro”. O que eles tentam fazer é “inverter a coisa”. “A intervenção social, muitas vezes, está consagrada às questões de caridade, a um conjunto de personagens que tem as vistas estreitas, uma visão limitada e não abrangente das problemática.”
O projecto "Working with the 99%” é o único representante português no prémio Future Cities e foi nomeado por um júri composto por Anna Detheridge (Connecting Cultures), Joseph Grima (editor da Domus), Richard Ingersoll (Universidade de Siracusa), Fulvio Irace (Universidade de Milão) e Mary Jane Jacob (Directora da Escola de Artes do Instituto de Chicago), que escolheu ainda quatro projectos italianos, um de Espanha, um da Áustria, um da Dinamarca, um da Grã-Bretanha e um do Brasil.