360 - A vida é um círculo perfeito
Depois da medonha adaptação do Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, não há grandes melhoras a registar na carreira “internacional” de Fernando Meirelles, que trocou a Cidade de Deus pelo Deus dará. Em parceria com um dos argumentistas da moda, Peter Morgan, atira-se em 360 a uma adaptação livre de Schnitzler e La Ronde. Que já foi muitas vezes filmada (à cabeça a versão de Max Ophuls, de 1950), ou meramente glosada a partir da peculiar matemática da sua progressão narrativa. Não é grave que a versão Meirelles não chegue aos calcanhares da versão Ophuls, porque o seu La Ronde é um dos mais belos filmes alguma vez feitos. Já é mais grave que não consiga sequer ser melhor do que, por exemplo, a versão de Roger Vadim (nos anos 60), que abandonava toda a profundidade para se empanturrar com o decorativismo dos cenários e com a fotogenia do elenco feminino. Opção excluída no projecto de Morgan e Meirelles: estão aqui a sério, 360 actualiza a peça de Schnitzler para a época contemporânea, e o objectivo é “comentar”.
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Depois da medonha adaptação do Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, não há grandes melhoras a registar na carreira “internacional” de Fernando Meirelles, que trocou a Cidade de Deus pelo Deus dará. Em parceria com um dos argumentistas da moda, Peter Morgan, atira-se em 360 a uma adaptação livre de Schnitzler e La Ronde. Que já foi muitas vezes filmada (à cabeça a versão de Max Ophuls, de 1950), ou meramente glosada a partir da peculiar matemática da sua progressão narrativa. Não é grave que a versão Meirelles não chegue aos calcanhares da versão Ophuls, porque o seu La Ronde é um dos mais belos filmes alguma vez feitos. Já é mais grave que não consiga sequer ser melhor do que, por exemplo, a versão de Roger Vadim (nos anos 60), que abandonava toda a profundidade para se empanturrar com o decorativismo dos cenários e com a fotogenia do elenco feminino. Opção excluída no projecto de Morgan e Meirelles: estão aqui a sério, 360 actualiza a peça de Schnitzler para a época contemporânea, e o objectivo é “comentar”.
Aquela “metafísica da globalização”, muito bem intencionada e muito condoída, assente em acasos e paralelismos, que em termos de pose e, infelizmente, deresultados, se aproxima perigosamente de Iñarritu (e valha a verdade: pegar em algo com este “pedigree” e depois “fazer Iñarritu” é proeza ao alcance de poucos). As personagens estão condenadas pela sua ontologia pré-fabricada: a eslovaca é prostituta, o russo é gangster, o muçulmano é religioso, os ingleses são ricos, o americano é violento, a brasileira é engatatona, etc. Ora se está em Viena, ora em Londres, ora no Colorado. Mas nada, nem personagens nem lugares, vive para além do carácter “exemplar” que o filme lhe destinou - são como “esquemas” ambulantes, a saltitarem de cidade em cidade, sem outra função para além de ilustrarem os dilemas morais que cada um representa. Acusar o filme de ser “redondo” seria, neste caso, absurdo; mas 360 graus ainda implica algum tipo de movimento, e a sensação no fim de 360 é que nem se chegou a sair do mesmo sítio.