Paredes de Coura: o professor Malkmus, a chuva e o parque de estacionamento

Foto
Foto: Paulo Pimenta

Era a elas, e às previsões de que na tarde de quarta-feira as coisas melhorariam, que, terça-feira, os festivaleiros se iam agarrando para aguentar a chuva com um sorriso. A chuva começou a cair na segunda-feira à noite e praticamente não deu sossego a quem rumou ao Minho para o 20.º aniversário do festival.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Era a elas, e às previsões de que na tarde de quarta-feira as coisas melhorariam, que, terça-feira, os festivaleiros se iam agarrando para aguentar a chuva com um sorriso. A chuva começou a cair na segunda-feira à noite e praticamente não deu sossego a quem rumou ao Minho para o 20.º aniversário do festival.

A chuva foi tanta que um porta-voz da organização anunciou, já a noite de concertos ia lançada, que um parque de estacionamento da vila estaria aberto para os campistas encharcados que lá quisessem pernoitar. Mas muitos já tinham escolhido outra alternativa às tendas, cercadas por água e lama de todos os lados: dormir no carro.

À segunda noite, o festival continuou a funcionar num só palco, como estava previsto. Se é verdade que a tenda que alberga o palco Vodafone FM abrigou alguns milhares de pessoas, ela foi também palco de um constante (e nem sempre bonito) jogo do empurra, entre quem lá estava, quem lá queria entrar e quem de lá queria sair para respirar ar puro ou tratar de outras necessidades básicas.

O americano Sun Araw abriu o palco com a sua música global, que bebe do reggae (o boné com a inscrição “Jamaica” já o prenunciava), do funk mais dionisíaco e mesmo do techno, enrolando tudo em jams que funcionam como mantras da boa onda universal.

Se em 2011 os No Age tiveram naquele mesmo local o momento de libertação do festival, até agora ele foi inteirinho dos canadianos Japandroids. São um guitarrista-vocalista hiperactivo e um baterista, o suficiente para fazer punk rock sem espinhas. Não são particularmente entusiasmantes, mas a energia transbordou do palco e abriram-se várias frentes de mosh. A juventude sub-18, boa parte da massa festivaleira presente em Paredes de Coura, apreciou.

Bem mais desafiantes e memoráveis foram os tUnE-yArDs. Têm o selo de “next big thing” e não lhes cai mal. A vocalista Merrill Garbus, dona de uma voz travessa e indisciplinada (o que é bom, neste caso), é também maestra de uma “orquestra” de loops de percussão, que ela mesmo monta, num bric-à-brac em mutação constante. A isso juntam-se dois saxofones libertinos, também capazes de percutir um testo e um pedaço de metal, e um baixista-percussionista com a calma necessária para sustentar este edifício em glorioso equilíbrio precário.

Coura teve ainda uma aula de indie rock, dada pelo professor Stephen Malkmus, assistido pelos The Jicks, catedrático com currículo reconhecido (fez parte dos Pavement e isso basta-lhe para o resto dos dias). Malkmus parece não envelhecer, tanto fisicamente, como na forma como continuar a fazer canções que prolongam os anos 90 para sempre. Foram particularmente felizes nas canções mais pop, como “Tigers” e “Senator”, devedoras dos Pavement que puseram o “alternativo” nas rádios.

A noite seguiu com os Friends, pop electrónica tão leve que não deixou rasto, e os portugueses PAUS, com o seu habitual festim de percussão, sintetizadores garridos e opulentos e baixo gordo.

O festival prossegue esta quarta-feira, o primeiro dia com vários palcos. A música começa ao final da tarde com o Jazz na Relva e só termina noite dentro com Kavinsky e Totally Enormous Extinct Dinosaurs. O palco principal contará com dEUS, Sleigh Bells, Midlake, Patrick Watson, The Temper Trap e Digitalism.