Chris Hoy voltou a ser um extraterrestre na despedida do ciclismo de pista

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À entrada para o último dia do ciclismo de pista dos Jogos, a selecção anfitriã já tinha cinco títulos em sete possíveis na modalidade. E o domínio manteve-se na derradeira jornada: não chegou aos oito triunfos, mas venceu duas das três últimas finais.

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À entrada para o último dia do ciclismo de pista dos Jogos, a selecção anfitriã já tinha cinco títulos em sete possíveis na modalidade. E o domínio manteve-se na derradeira jornada: não chegou aos oito triunfos, mas venceu duas das três últimas finais.

Ninguém personifica tanto o domínio da Grã-Bretanha na pista como Chris Hoy, que quis tornar-se ciclista depois de ver a famosa cena da bicicleta voadora do filme ET, o Extraterrestre, de Steven Spielberg.

“Isto é o que sempre quis: ganhar o ouro em casa”, sublinhou, depois de vencer o keirin. O escocês ganhou as duas provas em que competiu na capital inglesa e tornou-se o primeiro britânico a conquistar seis medalhas de ouro olímpicas, além de passar a ser também o mais medalhado de sempre, igualando Bradley Wiggins, também campeão em Londres (no contra-relógio de estrada), no número de pódios (sete). Não é coincidência que ambos sejam ciclistas. A Grã-Bretanha, que entre 1924 e 1996 só venceu uma medalha de ouro em todas as vertentes do ciclismo e não conseguiu sequer ir ao pódio nas décadas de 60 e 80 do século anterior, é agora a nação que todos perseguem.

O investimento e o trabalho feito a partir de 1997 deu frutos. Em 2004, em Atenas, teve pela primeira vez em quase 100 anos dois campeões e em 2008 conseguiu vencer sete dos dez títulos de pista, um desempenho repetido agora e que só encontra algum paralelo quando a Grã-Bretanha venceu cinco das seis provas do ciclismo em 1908. Impossível foi igualar o que conseguiram em 1904 os EUA, que ganharam as 21 medalhas disponíveis em sete provas, um feito que impressiona até se perceber que só competiram americanos. Mas o momento espectacular do ciclismo britânico não se limita à pista: Mark Cavendish é o actual campeão do mundo de estrada e Wiggins venceu há poucas semanas a Volta à França.

Final de carreira perfeito

Nesta terça-feira, a primeira medalha de ouro do dia foi para Laura Trott, que superou na última das seis provas do Omnium a americana Sarah Hammer, e levou os adeptos da casa ao delírio. Depois, no sprint feminino, Victoria Pendleton só não conseguiu bater a grande rival, a australiana Anna Meares, mas o ciclismo de pista despediu-se com mais um sucesso para os britânicos, através de sir Chris Hoy, porta-estandarte da sua comitiva na cerimónia de abertura.

“Este foi o final perfeito para a minha carreira olímpica. Em Sydney, fiquei nas nuvens com uma medalha de prata. Se tivesse parado então, seria um rapaz satisfeito, mas ganhar seis de ouro depois disso é inacreditável”, disse Hoy, que partilha o recorde de medalhas olímpicas no ciclismo juntamente com Wiggins e a holandesa Leontien van Moorsel.

O escocês de 36 anos, 11 vezes campeão mundial, é um pesadelo para os adversários — como comprovou Kobe Bryant, um dos espectadores no velódromo. Ganhou com autoridade as duas rondas e a final do keirin, uma especialidade criada no Japão por causa das apostas desportivas. Seis atletas seguem, durante cerca de seis voltas e meia e de forma relativamente pacífica, uma motoreta que vai aumentando de velocidade até aos 50km/h e é conduzida por um homem que, ao longe, parece um polícia francês do meio do século passado. Depois, o veículo com motor eléctrico, conhecido como "derny", sai da frente dos corredores nos últimos 600 metros e há um sprint louco até à meta. À qual Hoy chega, invariavelmente, em primeiro.