Os seis órgãos de Mafra na sala de estar

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Quando em Maio de 2010 os seis órgãos da Basílica de Mafra soaram em conjunto pela primeira vez desde há cerca de dois séculos na sequência de um longo trabalho de restauro que durou 12 anos, uma avalanche de público dirigiu-se aos concertos ávida por essa rara experiência sonora e estética. Apesar das grandes dimensões da Basílica nem todos conseguiram entrar, mas tem havido outras oportunidades para ouvir os seis instrumentos. Nada substitui a audição ao vivo, até porque parte do efeito decorre da disposição espacial, mas quem não teve oportunidade de assistir ao concerto inicial ou a outra interpretação ao vivo pode agora em sua própria casa ficar com uma ideia a partir do DVD lançado pela Althum e pela RTP.

Através de peças a solo da autoria de Diogo da Conceição, Carlos Seixas, Louis-Nicolas Clérambault, Isfrid Kayser, Marcos Portugal e Giuseppe Paganelli ficamos a conhecer cada um dos instrumentos pelas mãos de destacados organistas portugueses, Sérgio Silva, António Duarte, Isabel Albergaria, António Esteireiro, João Vaz e Rui Paiva. Três outras obras - a Sinfonia para seis órgãos de António Leal Moreira (1758-1819), uma versão do hino gregoriano Ave Maris Stella para coro masculino e seis órgãos da autoria de João Vaz (n. 1963) e o Gloria de exuberante carácter teatral da Missa para solistas, coro masculino e seis órgãos de João José Baldi (1770-1816) - mostram algumas das possibilidades do conjunto em termos do volume sonoro, colorido tímbrico decorrente da combinação dos registos, diálogos antifonais e concertantes. Alguns dos elementos do Coro Lisboa Cantat e os solistas Fernando Guimarães e Carlos Monteiro (tenores) e Diogo Oliveira (barítono) cantaram nas tribunas da Basílica reforçando o jogo espacial.

Quem imaginava que os seis órgãos iriam produzir um volume estrondoso, talvez fique surpreendido com o facto de estes também serem capazes de sonoridades suaves e claras e de acompanharem eficazmente o coro sem se sobreporem às vozes. Nesta primeira apresentação sabe a pouco a escassa amostra de obras para seis órgãos. Espera-se que no futuro o repertório que se guarda na Biblioteca do Convento de Mafra e na Biblioteca do Paço Ducal de Viçosa venha a ser recuperado e também que o conjunto inspire os compositores contemporâneos. Nos finais do século XVIII e inícios do século XIX, época que coincide com a conclusão dos órgãos e com as estadias cada vez mais regulares do Príncipe Regente (futuro D. João VI) em Mafra, compositores como João de Sousa Carvalho, José Joaquim dos Santos, Antonio Puzzi, João José Baldi, Luciano Xavier dos Santos, Fr. Bernardo da Conceição, Leal Moreira, Marcos Portugal e Fr. José Marques, escreveram música original para coro, solistas e os vários órgãos (de dois a seis) da Basílica. Foram também realizados arranjos de peças já existentes, incluindo versões de Sinfonias de Haydn.

Os instrumentos que chegaram até aos nossos dias (três órgãos construídos por António Xavier Machado e Cerveira e os outros três por Joaquim António Peres Fontanes) foram inaugurados entre 1806 e 1807 mas a maior parte das fontes históricas referem a existência ou a utilização de seis órgãos logo desde a Sagração da Basílica em 1730. Nessa altura tratava-se de órgãos positivos (três deles vindos de Roma), mas a ideia de vir a dotar a Basílica com seis instrumentos fazia parte dos planos de D. João V desde o início. O contexto histórico e o papel que tiveram na representação sacra do poder régio, as características dos instrumentos e o processo de restauro são descritos nos excelentes textos de Rui Vieira Nery e João Vaz incluídos no belo livro, profusamente ilustrado, que acompanha o DVD. Além do concerto, este reproduz também o programa Câmara Clara (RTP 2) de 9 de Maio de 2010, que inclui entrevistas aos principais intervenientes do restauro: Dinarte Machado (organeiro), João Vaz (organista e consultor permanente), Rui Vieira Nery (musicólogo e presidente da Comissão Científica de Acompanhamento) e Mário Pereira (director do Palácio Nacional de Mafra).

O investimento da reabilitação foi de um milhão de euros, montante repartido entre o Ministério da Cultura (que atribuiu o trabalho total ao organeiro Dinarte Machado em 1999) e o mecenato privado do Barclays Bank. De todas as intervenções no século XX esta foi a única que olhou para os seis órgãos ao mesmo tempo e que procurou reconstruí-los de acordo com o perfil original. A intervenção foi distinguida recentemente com o Europa Nostra Award 2012 (Conservation).

 

Os Seis Órgãos da Basílica de Mafra

João Vaz, Rui Paiva, António Esteireiro, António Duarte, Sérgio Silva, Isabel Albergaria (organistas), Coro Sinfónico Lisboa Cantat, Jorge Alves (direcção)

Althum/RTP Edições (DVD+livro)

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Quando em Maio de 2010 os seis órgãos da Basílica de Mafra soaram em conjunto pela primeira vez desde há cerca de dois séculos na sequência de um longo trabalho de restauro que durou 12 anos, uma avalanche de público dirigiu-se aos concertos ávida por essa rara experiência sonora e estética. Apesar das grandes dimensões da Basílica nem todos conseguiram entrar, mas tem havido outras oportunidades para ouvir os seis instrumentos. Nada substitui a audição ao vivo, até porque parte do efeito decorre da disposição espacial, mas quem não teve oportunidade de assistir ao concerto inicial ou a outra interpretação ao vivo pode agora em sua própria casa ficar com uma ideia a partir do DVD lançado pela Althum e pela RTP.

Através de peças a solo da autoria de Diogo da Conceição, Carlos Seixas, Louis-Nicolas Clérambault, Isfrid Kayser, Marcos Portugal e Giuseppe Paganelli ficamos a conhecer cada um dos instrumentos pelas mãos de destacados organistas portugueses, Sérgio Silva, António Duarte, Isabel Albergaria, António Esteireiro, João Vaz e Rui Paiva. Três outras obras - a Sinfonia para seis órgãos de António Leal Moreira (1758-1819), uma versão do hino gregoriano Ave Maris Stella para coro masculino e seis órgãos da autoria de João Vaz (n. 1963) e o Gloria de exuberante carácter teatral da Missa para solistas, coro masculino e seis órgãos de João José Baldi (1770-1816) - mostram algumas das possibilidades do conjunto em termos do volume sonoro, colorido tímbrico decorrente da combinação dos registos, diálogos antifonais e concertantes. Alguns dos elementos do Coro Lisboa Cantat e os solistas Fernando Guimarães e Carlos Monteiro (tenores) e Diogo Oliveira (barítono) cantaram nas tribunas da Basílica reforçando o jogo espacial.

Quem imaginava que os seis órgãos iriam produzir um volume estrondoso, talvez fique surpreendido com o facto de estes também serem capazes de sonoridades suaves e claras e de acompanharem eficazmente o coro sem se sobreporem às vozes. Nesta primeira apresentação sabe a pouco a escassa amostra de obras para seis órgãos. Espera-se que no futuro o repertório que se guarda na Biblioteca do Convento de Mafra e na Biblioteca do Paço Ducal de Viçosa venha a ser recuperado e também que o conjunto inspire os compositores contemporâneos. Nos finais do século XVIII e inícios do século XIX, época que coincide com a conclusão dos órgãos e com as estadias cada vez mais regulares do Príncipe Regente (futuro D. João VI) em Mafra, compositores como João de Sousa Carvalho, José Joaquim dos Santos, Antonio Puzzi, João José Baldi, Luciano Xavier dos Santos, Fr. Bernardo da Conceição, Leal Moreira, Marcos Portugal e Fr. José Marques, escreveram música original para coro, solistas e os vários órgãos (de dois a seis) da Basílica. Foram também realizados arranjos de peças já existentes, incluindo versões de Sinfonias de Haydn.

Os instrumentos que chegaram até aos nossos dias (três órgãos construídos por António Xavier Machado e Cerveira e os outros três por Joaquim António Peres Fontanes) foram inaugurados entre 1806 e 1807 mas a maior parte das fontes históricas referem a existência ou a utilização de seis órgãos logo desde a Sagração da Basílica em 1730. Nessa altura tratava-se de órgãos positivos (três deles vindos de Roma), mas a ideia de vir a dotar a Basílica com seis instrumentos fazia parte dos planos de D. João V desde o início. O contexto histórico e o papel que tiveram na representação sacra do poder régio, as características dos instrumentos e o processo de restauro são descritos nos excelentes textos de Rui Vieira Nery e João Vaz incluídos no belo livro, profusamente ilustrado, que acompanha o DVD. Além do concerto, este reproduz também o programa Câmara Clara (RTP 2) de 9 de Maio de 2010, que inclui entrevistas aos principais intervenientes do restauro: Dinarte Machado (organeiro), João Vaz (organista e consultor permanente), Rui Vieira Nery (musicólogo e presidente da Comissão Científica de Acompanhamento) e Mário Pereira (director do Palácio Nacional de Mafra).

O investimento da reabilitação foi de um milhão de euros, montante repartido entre o Ministério da Cultura (que atribuiu o trabalho total ao organeiro Dinarte Machado em 1999) e o mecenato privado do Barclays Bank. De todas as intervenções no século XX esta foi a única que olhou para os seis órgãos ao mesmo tempo e que procurou reconstruí-los de acordo com o perfil original. A intervenção foi distinguida recentemente com o Europa Nostra Award 2012 (Conservation).

 

Os Seis Órgãos da Basílica de Mafra

João Vaz, Rui Paiva, António Esteireiro, António Duarte, Sérgio Silva, Isabel Albergaria (organistas), Coro Sinfónico Lisboa Cantat, Jorge Alves (direcção)

Althum/RTP Edições (DVD+livro)

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