Depois da seca, a Coreia do Norte vive as piores cheias da sua História
Numa notícia de poucos segundos, a televisão da Coreia do Norte, KCNA, disse no dia 25 de Julho que 88 pessoas tinham morrido devido às chuvadas. O tema não foi mais abordado, diz a Reuters, apesar de a chuva ter continuado a cair torrencialmente, provocando as piores cheias da História do país.
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Numa notícia de poucos segundos, a televisão da Coreia do Norte, KCNA, disse no dia 25 de Julho que 88 pessoas tinham morrido devido às chuvadas. O tema não foi mais abordado, diz a Reuters, apesar de a chuva ter continuado a cair torrencialmente, provocando as piores cheias da História do país.
Nesta terça-feira, uma equipa da UNICEF (a agência das Nações Unidas para a infância) na Coreia do Norte anunciou o início de uma visita às zonas afectadas para apurar o grau de destruição e o nível de ajuda humanitária necessária. Diz o jornal britânico The Guardian que a intervenção da ONU, e da Cruz Vermelha Internacional, se fez a pedido das autoridades em Pyongyang, a capital do país. “Concordámos em enviar uma equipa de intervenção rápida mista [ONU
Cruz Vermelha] para as zonas mais afectadas”, disse num depoimento que enviou por escrito à Reuters Christopher de Bono, chefe de comunicações da UNICEF Ásia-Pacífico.
Na segunda e na terça-feira, os níveis de precipitação foram os mais elevados em cem anos. Na cidade de Anju, por exemplo, a quantidade de água fez subir tanto o rio Chongchon que uma grande parte das habitações ficou submersa. Há 60 mil pessoas desalojadas em todo o país e na região de Anju não há água potável, o que faz recear um surto de doenças devido ao consumo de água contaminada (as chuvadas destruíram a rede de distribuição, relata a Associated Press). Não há electricidade, não há comunicações, os campos de arroz estão inundados e Kim Kwang Dok, vice-presidente do comité do povo de Anju, desabafou à Associated Press que nunca a cidade assistira a um desastre tão grande.
As cheias — constantes desde o início do ano na Coreia do Norte — sucederam a uma devastadora seca. Desastres naturais consecutivos que estragaram os campos aráveis e agravaram a escassez de alimentos, que é crónica. Nos anos de 1990, a Coreia do Norte sofreu dois períodos de fome. O país não produz alimentos suficientes e dois terços dos 24 milhões de habitantes passam fome, de acordo com um relatório das Nações Unidas divulgado em Junho e em que eram pedidos 198 milhões de dólares em ajuda humanitária. Conseguiu 85 milhões. Em Abril, a ajuda alimentar a este país que é considerado o mais fechado do mundo já tinha tido um revés, quando os Estados Unidos suspenderam o envio de 240 mil toneladas de alimentos por o Governo em Pyongyang ter voltado com a palavra atrás — dissera que suspenderia os testes de armas estratégicas, o que foi considerado um avanço do novo líder, Kim Jong-un, que herdou o poder no final do ano quando o pai, Jong-il, morreu. Mas, em Abril, fizeram um lançamento.
Os especialistas em agricultura ouvidos pelo jornal The New York Times disseram que o enorme impacte dos desastres naturais na Coreia do Norte se explica com o fraco ou inexistente investimento na prevenção. Não há reservas de bens alimentares, a deflorestação foi intensa, não há uma boa rede de comunicações, há falta de fertilizantes, de combustível, de bombas de irrigação, de máquinas agrícolas.
O esforço económico centra-se quase todo na indústria do armamento e isso mesmo sustentou o ministro dos Negócios Estrangeiros. Citado pela KCNA e na tradução da Reuters disse, há dias, que o Governo está a garantir o crescimento económico com a “indústria das armas”.
Mais uma não mudança na Coreia de Kim Jong-un, que parece só se distanciar do pai nas saídas à rua — há dias a KCNA mostrou-o a andar numa montanha-russa e, na segunda-feira de enxurrada, anunciou que assistira com a mulher a um musical e recebera uma estrondosa ovação.