Banda punk feminina anti-Putin começa a ser julgada em Moscovo
Jovens foram presas em Fevereiro, depois de terem cantado uma “oração punk” na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo. Julgamento arranca esta segunda-feira
As três mulheres russas que cantaram uma música anti-Putin numa catedral ortodoxa - a letra pede à Virgem Maria que afaste o Presidente do poder - começam a ser julgadas esta segunda-feira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As três mulheres russas que cantaram uma música anti-Putin numa catedral ortodoxa - a letra pede à Virgem Maria que afaste o Presidente do poder - começam a ser julgadas esta segunda-feira.
Maria Aliokhina, de 24 anos, Nadezhda Tolokonnikova, 22, e Iekaterina Samutsevich, 29, foram presas em Fevereiro depois de terem ocupado a Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, e cantado uma "oração punk". A Igreja Ortodoxa pediu que fossem acusadas de blasfémia. Há um filme no Youtube sobre o que se passou (ver acima).
Os apoiantes do grupo disseram que este será um julgamento com motivos políticos, devido à letra e à acção. A banda, que se chama Pussy Riot, foi acusada de vandalismo e de "actos de ódio religioso" na catedral mas também na Praça Vermelha onde deram um concerto não autorizado que fez parte de uma manifestação anti-Putin. Na manifestação, à medida que cantavam, as mulheres foram retirando a roupa, acabando em lingerie.
A Igreja Ortodoxa exigiu que fossem severamente condenadas, pelo que poderão, caso sejam consideradas culpadas, passar até sete anos na prisão. Um movimento que integra opositores a Putin, seguidores do grupo e músicos ocidentais (Sting e os Hot Chilli Pepper, por exemplo), pediu a sua libertação e manifestou receios de o julgamento não ser justo.
Kremlin versus Lei
"A decisão do tribunal não dependerá da lei mas da vontade do Kremlin", disse à Reuters Liudmila Alexeieva, uma moscovita que chefia o grupo de defesa dos direitos humanos Grupo de Helsínquia.
As Pussy Riot, que se inspiraram nos grupos punk femininos dos anos 1990, como as Bikini Kill, e no movimento Riot Grrl, inrromperam na cena musical moscovita no início do Inverno passado com letras agressivas e "performances" fora da caixa. Consideram-se um movimento "avant-garde" de uma geração descontente com Putin, que já está há 12 anos no poder.
Putin enfrenta uma onda de contestação inédita na Rússia pós-soviética e tem vindo a apertar o cerco aos seus opositores, em concreto aos membros da "nova oposição". O bloguer Alexei Navalni, que denunciou inúmeros crimes de corrupção dentro do aparelho político, começa também amanhã a ser julgado por incitamento à desordem na véspera da tomada de posse de Putin, a 7 de Maio. Poderá ser condenado a cinco anos de prisão.
No caso da banda punk, além da questão política, há a questão religiosa. A Igreja Ortodoxa fez um tímido ressurgimento após o fim da União Soviética, mas a sua influência foi crescendo e, hoje, o poder político começa a tê-la em atenção - 142 milhões de russos consideram-se ortodoxos, apesar de o número de fiéis praticantes estar longe deste número.