Morre... e deixa-me em paz

Valerá ainda a pena resmungar com os disparates da distribuição que dão um título português de comédia palerma abaixo de boçal a uma história “contado ninguém acredita” dos confins do Texas? Morre... e Deixa-me em Paz, ainda por cima, falseia os dados da história verídica de Bernie Tiede que o veterano americano Richard Linklater dirige numa estética de semi-falso-documentário-verdadeiro, sobre um cangalheiro de Carthage, Texas que consegue fazer saír da toca a viúva endinheirada lá do sítio para, uns anos mais tarde e já pau-para-toda-a-obra da megera, lhe dar quatro tiros pelas costas e esconder o crime durante nove meses. Com a peculiaridade de que Carthage, mesmo sabendo que Bernie era culpado, nunca deixou de o defender fervorosamente. Intercalando depoimentos dos (verdadeiros) habitantes de Carthage com os actores interpretando as personagens principais, o filme é uma discreta investigação sobre as dinâmicas da justiça americana e as idiossincrasias de uma pequena comunidade rural. É uma daquelas histórias bizarras que os Coens fariam suas sem esforço mas que Linklater, com a sua descontrac? ?ão muito texana, dirige para um território com mais nuances e menos certezas, onde a coabitação de actores e não-actores introduz uma nota de peculiar surrealismo. E, acima de tudo, há uma fantástica interpretação de Jack Black, transportando o filme aos ombros com um à-vontade que raramente as suas comédias lhe permitem.

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Valerá ainda a pena resmungar com os disparates da distribuição que dão um título português de comédia palerma abaixo de boçal a uma história “contado ninguém acredita” dos confins do Texas? Morre... e Deixa-me em Paz, ainda por cima, falseia os dados da história verídica de Bernie Tiede que o veterano americano Richard Linklater dirige numa estética de semi-falso-documentário-verdadeiro, sobre um cangalheiro de Carthage, Texas que consegue fazer saír da toca a viúva endinheirada lá do sítio para, uns anos mais tarde e já pau-para-toda-a-obra da megera, lhe dar quatro tiros pelas costas e esconder o crime durante nove meses. Com a peculiaridade de que Carthage, mesmo sabendo que Bernie era culpado, nunca deixou de o defender fervorosamente. Intercalando depoimentos dos (verdadeiros) habitantes de Carthage com os actores interpretando as personagens principais, o filme é uma discreta investigação sobre as dinâmicas da justiça americana e as idiossincrasias de uma pequena comunidade rural. É uma daquelas histórias bizarras que os Coens fariam suas sem esforço mas que Linklater, com a sua descontrac? ?ão muito texana, dirige para um território com mais nuances e menos certezas, onde a coabitação de actores e não-actores introduz uma nota de peculiar surrealismo. E, acima de tudo, há uma fantástica interpretação de Jack Black, transportando o filme aos ombros com um à-vontade que raramente as suas comédias lhe permitem.