Carlos Lopes: A medalha que começou com um atropelamento

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Carlos Lopes, vencedor da maratona nos Jogos de 1984 DR

"Julguei que ia bater com a cabeça no asfalto. Por instinto defendi-me e acabei por cair sobre a omoplata esquerda. Nem sei como a cabeça não bateu em nada... Levei algum tempo a levantar-me. Tinha medo, pensava que já não ia a Los Angeles", recordou mais tarde, em entrevista ao jornal A Bola, o atleta português. O carro que o tinha atropelado era um Mercedes e o condutor era um comandante da TAP, Lobato Faria. Quem assistiu à cena quis bater no comandante e foi Carlos Lopes quem o defendeu. Naquela manhã, foi directo para o Hospital de Santa Maria, onde fez vários exames. O procedimento repetiu-se numa clínica, já com a supervisão de um médico do Sporting, e os resultados foram conclusivos: estava tudo bem.

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"Julguei que ia bater com a cabeça no asfalto. Por instinto defendi-me e acabei por cair sobre a omoplata esquerda. Nem sei como a cabeça não bateu em nada... Levei algum tempo a levantar-me. Tinha medo, pensava que já não ia a Los Angeles", recordou mais tarde, em entrevista ao jornal A Bola, o atleta português. O carro que o tinha atropelado era um Mercedes e o condutor era um comandante da TAP, Lobato Faria. Quem assistiu à cena quis bater no comandante e foi Carlos Lopes quem o defendeu. Naquela manhã, foi directo para o Hospital de Santa Maria, onde fez vários exames. O procedimento repetiu-se numa clínica, já com a supervisão de um médico do Sporting, e os resultados foram conclusivos: estava tudo bem.

Teria sido um golpe duro para Lopes, atleta de currículo ímpar no atletismo português, da pista ao corta-mato, a quem a glória olímpica (leia-se, a medalha de ouro) tinha falhado por poucos segundos em Montreal 1976 por culpa de Lasse Viren nos 10.000m - e o finlandês nunca se livrou da fama de doping sanguíneo. Lopes falhara os Jogos de Moscovo 1980 por causa do boicote e Los Angeles seria a sua última oportunidade. Naquela manhã de muito calor, Lopes era um dos favoritos, não "o" favorito. Falava-se em Rob de Castella, o australiano, em Alberto Salazar, o cubano naturalizado norte-americano, em Toshihiko Seko, o japonês.

Lopes estava em Los Angeles com o estatuto de campeão mundial de corta-mato e como corredor de topo em pista. Mas não era um maratonista experiente. Antes de Los Angeles, tinha corrido três vezes a prova de 42,195km, tendo terminado uma delas. Mas era o suficiente para ter o apoio da Nike, que o instalou num hotel em Santa Mónica (onde também ficou Rosa Mota, que conquistou a medalha de bronze na prova feminina) e o "afastou" da Aldeia Olímpica, nas instalações da UCLA.

Segundo recorda Lopes, todos os principais adversários andavam nervosos e cheios de queixas e, neste cenário, o português não podia dar parte de forte. "Quando eles falavam comigo e se queixavam, eu respondia logo: eu também, eu também, dói-me tudo. Era tanga, não sabia se da parte deles também era." Na estrada, viu-se quem estava, de facto, bem. Salazar, Seko e De Castella foram ficando para trás, até restar um trio na frente composto por Lopes, pelo irlandês John Treacy e o britânico Charles Spedding.

Aos 38km, Lopes deixa para trás os adversários mais directos e corre sozinho em ritmo alto até ao Coliseu, naquela que seria a última prova dos Jogos de Los Angeles. Assim que cortou a meta, continuou a dar voltas à pista, enquanto os outros desfaleciam à chegada, esgotados pelo esforço e pelo calor. O seu tempo, 2h09m21s, foi recorde olímpico até Pequim 2008, batido quase por três minutos por Samuel Wanjiru. "Vim preparado para perder e para vencer", disse, na altura, o atleta português. "[No acidente] magoei-me na perna e no braço esquerdos. Mas também parti o vidro do carro."