Garbage e Kaiser Chiefs triunfaram em modo "best of"

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Coube à pop energética dos Kaiser Chiefs o privilégio de encerrar a noite Paulo Pimenta

A estratégia, mesmo que conservadora, revelou-se eficaz, dando origem a prestações adultas e competentes, com maior exuberância no caso dos britânicos Chiefs. Houve mais público do que na véspera (mais de 20.000 pessoas, seguramente), mas há igualmente a registar dois concertos desinteressantes no palco principal: GUN e The Cult.

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A estratégia, mesmo que conservadora, revelou-se eficaz, dando origem a prestações adultas e competentes, com maior exuberância no caso dos britânicos Chiefs. Houve mais público do que na véspera (mais de 20.000 pessoas, seguramente), mas há igualmente a registar dois concertos desinteressantes no palco principal: GUN e The Cult.

Depois das actuações dos Eleanors e de Slimmy num palco secundário que passa um pouco ao lado do público, os GUN foram protagonistas de um concerto inócuo no anfiteatro principal. A banda escocesa (até o pano com o seu nome, no fundo do palco, era monotonamente branco, com letras negras) tem como receita uma espécie de genérico rock & roll, algures entre o hard rock e o glam metal. Seguindo as instruções, até poderia bastar juntar algum condimento extra e agitar para produzir canções aceitáveis – mas os GUN servem tudo em modo cru, debitando linhas de guitarra que parecem saídas de um curso de rock por correspondência. Depois de mais de uma década de ausência, voltaram aos discos com Break the Silence e apresentaram algumas dessas novas canções, incluindo o tema título, que soa a pastiche de Killers. Algo está mal quando o maior sucesso dos GUN (por sinal, uma versão, de “Word Up!”, dos Cameo) é recebido com estridente frieza.

De seguida, os Cult subiram a fasquia, mas apenas um nível. A matéria-prima é a mesma, ancorada no rock lustroso dos anos 1980, mas houve uma recepção mais calorosa da audiência, que ajudou a tornar o espectáculo superior em termos de interesse. O grupo de Ian Astbury agrupou alguns dos seus temas mais conhecidos – como “Rain”, “Firewoman” e “Spiritwalker” – a novas composições de Choice of Weapon (álbum lançado em Maio), como “Honey from a knife” ou “For the animals”. No entanto, todas soaram algo indistintas, excepto “She Sells Sanctuary”, o grande êxito dos Cult e o primeiro riff memorável da noite.

A actuação dos Garbage suscitava expectativa, dado que a banda de Shirley Manson apresentava o novo Not Your Kind of People, disco com que procuram recuperar algum do ímpeto do álbum homónimo, que ajudou a estilhaçar o mundo do pop-rock em meados dos anos 1990. No entanto, apenas quatro temas fizeram parte do alinhamento e os mesmos não sugerem que o quarteto seja capaz de novo golpe de asa (ouça-se por exemplo a electrónica algo artificial de “Automatic Systematic Habit”). A vocalista Shirley Manson – que se mostrou particularmente irritada com o comportamento alegadamente desordeiro de um espectador, ameaçando expulsá-lo do recinto –, elogiou a arquitectura do Porto e revelou ter encontrado traços que lhe fizerem recordar a ex-colónia portuguesa de Goa, na Índia. Os melhores momentos do espectáculo foram aqueles em que os Garbage mostraram algum negrume, como “Queer” ou “#1 Crush”. Algo apático, o público só despertou com “Only Happy When It Rains”, no fecho.

Coube à pop energética dos Kaiser Chiefs (que têm repetido presenças em Portugal, tendo estado há pouco mais de um mês no Rock in Rio) o privilégio de encerrar a noite. O quinteto de Leeds fez valer o seu habitual voluntarismo em palco, exponenciado ao máximo na pele do vocalista Ricky Wilson, que corre quilómetros (pouco antes do encore, surgiu mesmo num declive lateral do recinto, surpreendendo o público). Isto não quer dizer que Wilson perca o controlo do registo vocal ou que a banda perca o fio à meada. Precisa como um relógio, foi debitando os seus inúmeros refrões “orelhudos”, Quem nunca cantarolou “Everyday I love you less and less”, “Na na na na naa”, “I predict a riot” ou “Ruby”? Durante cerca de 1h30, os ingleses deixaram de lado o registo mais experimental e ousado de The Future Is Medieval (2011), mas os momentos em que o abordaram (como foi o caso de “Little shocks”) serviram para abrir um pouco a paleta sonora e tornar a actuação mais rica do que em passadas digressões. Os Kaiser Chiefs não serão capazes de revoluções sonoras, mas proporcionam um concerto competente e divertido a quem não estiver preocupado em analisar a fundo o fenómeno da música pop.

Na noite desta sexta-feira, tocam no palco principal Gogol Bordello (1h), Billy Idol (23h15), Os Azeitonas (22h) e Ebony Bones (21h).