Marés Vivas: Duas máquinas afinadas e um acidente sueco
No primeiro dia do festival Marés Vivas, no Cabedelo, em Vila Nova de Gaia, as bandas do palco principal tinham poucas novidades para apresentar (o facto de nenhuma delas ter editado um disco este ano é bem ilustrativo). Por isso, estava mais em jogo a competência em palco e a qualidade do repertório do que eventuais surpresas. Nesta perspectiva, Wolfmother e Franz Ferdinand passaram o teste com alguma distinção, fazendo uso dos seus maiores êxitos, enquanto os Sounds reprovaram e dificilmente terão direito a recurso. Os suecos não apresentaram palmarés à altura e foram ainda prejudicados por graves problemas de som.
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No primeiro dia do festival Marés Vivas, no Cabedelo, em Vila Nova de Gaia, as bandas do palco principal tinham poucas novidades para apresentar (o facto de nenhuma delas ter editado um disco este ano é bem ilustrativo). Por isso, estava mais em jogo a competência em palco e a qualidade do repertório do que eventuais surpresas. Nesta perspectiva, Wolfmother e Franz Ferdinand passaram o teste com alguma distinção, fazendo uso dos seus maiores êxitos, enquanto os Sounds reprovaram e dificilmente terão direito a recurso. Os suecos não apresentaram palmarés à altura e foram ainda prejudicados por graves problemas de som.
Comecemos por falar do crescimento deste festival: se há um sinal que o pode comprovar, ele é o aumento exponencial da zona dedicada aos patrocinadores (talvez até porque no Norte escasseiem estes grandes eventos). Encontrámos testes de alcoolémia, publicidade a ginásios, instituições de ensino, marcas de gelados e órgãos de comunicação, barracas de bugigangas, pipocas, bebidas e merchandising. O recinto, com capacidade para 25.000 pessoas, não encheu mas esteve bem composto, no dia em que se previa menos público.
Indiana Blues Band e The Lazy Faithful abriram a noite no palco secundário, cabendo aos Sounds estrear o palco principal, rigorosamente às 22h – tanta pontualidade pareceu até surpreender os festivaleiros. Infelizmente, o acerto não se estendeu ao som, que sofreu de vários problemas ao longo da noite, com maior incidência no concerto dos suecos. De qualquer forma, não nos parece que houvesse grande salvação para o quinteto liderado pela sensual Maja Ivarsson. Deixando de lado a abordagem mais electrónica de Something to Die For, disco de 2011, o quinteto procurou abordar de forma rockeira um repertório que vai buscar a maior parte das suas ideias aos primeiros anos da década de 1980: energia punk, adornos de sintetizador que evocam a new wave e sensibilidade pop. Porém, o processo de composição da banda parece esgotar-se num bom riff ou ideia inicial - as canções tornam-se depois invariavelmente previsíveis e aborrecidas. A actuação, que tocou os quatro álbuns em inglês do grupo, terminou ainda assim em alta, com “Hope you're happy now”, do disco de estreia.
Seguiram-se os Wolfmother, uma banda cuja principal fonte de inspiração parece ser os anos 1970 e nomes como Black Sabbath, Led Zeppelin ou Deep Purple. Poder-se-ia antecipar um mero pastiche, mas a verdade é que a banda (quase um projecto solitário do australiano Andrew Stockdale, o único membro que se mantém desde a fundação) parece bem mais solta ao vivo do que em disco. Em palco viram-se cinco cabeludos capazes de sustentar um espectáculo competente, divertido e musicalmente expansivo. Os Wolfmother não se detiveram em longos solos, oferecendo ao invés momentos de psicadelismo e improvisação, como em “White unicorn”, prolongada com uma longa jam que incluiu um excerto de “Another brick in the Wall”, dos Pink Floyd. Esse momento terá feito dispersar uma parte mais impaciente do público, mas não travou momentos como “Keep moving” (travo blues, belíssimo riff de guitarra e harmónica) e “Cosmic egg” (outro riff a recordar). “Dimension” e a black sabathiana “Colossal” destacaram-se igualmente no alinhamento.
Por volta da 1h15, entraram em cena os Franz Ferdinand, uma aposta que muito dificilmente sai furada. Em primeiro lugar, porque têm uma quantidade quase surreal de singles (leia-se canções orelhudas e trauteáveis, no bom sentido). Para além disso, têm a lição bem estudada: uma secção rítmica mais do que competente, riffs viciantes, um líder com uma seguríssima voz de barítono e uma dose q.b. de coolness (observe-se a maneira quase coreografada como seguram as guitarras). A maior surpresa numa actuação previsivelmente consistente acabou por ser o novo visual de Alex Kapranos (cabelo "à tigela" e bigode), que não lhe pareceu diminuir o carisma.
Quase todos os temas mais populares da banda foram incluídos no alinhamento: de “Jacqueline” a “Do you want to”, de “The dark of the matinée” a “Ulysses”, passando pelas inevitáveis “Take me out” e “This fire”. Em “Can't stop feeling” ouviram-se versos de “I feel love”, de Donna Summer. Houve ainda tempo para testar “Scarlet blue”, um novo tema, com tempero blues e riff nervoso, típico da banda. Pela amostra, a sua sonoridade não deverá mudar muito no futuro.
Na noite desta quinta-feira, tocam no palco principal Kaiser Chiefs (1h), Garbage (23h15), The Cult (22h) e GUN (21h).