Lenine Cunha: só lhe falta uma medalha em Londres
Com os paralímpicos no horizonte, o P3 falou com Lenine Cunha, recordista mundial do heptatlo, triplo salto e pentatlo em pista coberta, que vai tentar a sorte em Londres na prova de salto em comprimento
Aos quatro anos, um ataque de meningite forçou Lenine a recomeçar a vida. A perda da fala, da memória e as consequências a nível intelectual foram as faces visíveis da doença, mas apenas três anos mais tarde o jovem de Vila Nova de Gaia encontrou um rumo de que não se arrepende: o atletismo.
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Aos quatro anos, um ataque de meningite forçou Lenine a recomeçar a vida. A perda da fala, da memória e as consequências a nível intelectual foram as faces visíveis da doença, mas apenas três anos mais tarde o jovem de Vila Nova de Gaia encontrou um rumo de que não se arrepende: o atletismo.
Desde sempre integrou as competições do “desporto dito normal” e só aos 16 anos viria a entrar na ANDDI — Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual. “Entrei para a ANDDI em 1999 e logo em 2000 fui aos jogos Paralímpicos de Sydney.” “Foi a melhor competição em que já estive”, lembra com orgulho. O sucesso não mais largou Lenine, ou Lenny, alcunha pela qual gosta de ser tratado, porque não vai à bola com o baptismo que os pais lhe deram.
O desporto é a sua única ocupação, mas Lenny, de 29 anos, adverte que é lisonjeiro considerar-se um atleta profissional. “Não dá para viver. Dá para viver se tivermos os patrocínios e com vontade e ajuda dos pais e amigos.” As dificuldades financeiras com que se debate, fruto em parte da discrepância de valores nas bolsas atribuídas aos atletas olímpicos face aos paralímpicos, cuja diferença é muito grande”, não é o único obstáculo que enfrenta.
Lenine não compreende a falta de visibilidade concedida aos atletas paralímpicos e destaca os EUA e a Austrália como exemplos a seguir em termos de mentalidade. “Deviam transmitir os nossos campeonatos do mundo, como fazem com os outros atletas, nem isso transmitem. Estive em Manchester, trouxe sete medalhas, chegámos ao aeroporto e nem um órgão de comunicação social estava lá”, lamenta.
Do desalento a nova esperança
Em 2010, no Europeu de Atletismo para atletas com deficiência, na Croácia, arrebatou seis medalhas: três de ouro (triplo salto, 4 x 100 e 4 x 400), duas de prata (heptatlo e 100 m) e uma de bronze (salto em comprimento); em 2011, no Mundial disputado na Nova Zelândia, alcançou a prata no salto em comprimento, e já este ano, em Manchester, no 7.º campeonato do mundo de Pista Coberta da INAS — Federação Internacional de Desporto para Pessoas com Deficiência Intelectual — foi sete vezes ao pódio ao conquistar três medalhas de ouro, três de prata e uma de bronze.
Por tudo isto, parece estranho não constar no seu palmarés o êxito paralímpico. Há uma explicação.
O sonho de ganhar uma medalha paralímpica sofreu um grande revés em 2000 quando Carlos Ribagorda, jornalista espanhol, se infiltrou na equipa de basquetebol para deficientes intelectuais espanhola com o intuito de provar a falta de fiscalização relativamente à elegibilidade dos atletas.
A denúncia trouxe maior transparência ao paralímpicos e obrigou o IPC — Comité Paralímpico Internacional — a repensar os critérios de classificação de deficiência, contudo também significou a suspensão da participação dos atletas nas edições dos Jogos de Atenas e Pequim. “Por uns pagam os outros. Para mim foi muito mau, desanimou-me completamente”, conta Lenine ao P3.
Agora, com a readmissão dos atletas com deficiência intelectual nos Jogos de Londres, o recordista mundial do triplo salto, pentatlo em pista coberta e heptatlo, fã de Jonathan Edwards e Naide Gomes, tem uma derradeira oportunidade de subir ao pódio na competição mais ilustre do desporto mundial.