Lobo-ibérico com pata amputada em armadilha ilegal foi devolvido à liberdade

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Estima-se que existam em Portugal cerca de 300 lobos Pedro Cunha

Em Montalegre é bem conhecida a história do caso do lobo-ibérico (Canis lupus signatus), com um ano de idade, que esteve no Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) nos últimos dois meses.

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Em Montalegre é bem conhecida a história do caso do lobo-ibérico (Canis lupus signatus), com um ano de idade, que esteve no Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) nos últimos dois meses.

Domingos Moura, veterinário municipal de Montalegre, cuidou do lobo durante as primeiras 24 horas, em finais de Abril. “Foi uma pessoa de uma aldeia que o encontrou num laço ilegal, e me avisou. Quando o levei para a clínica tinha 30 quilos, estava muito debilitado, desidratado e faminto”, contou ao PÚBLICO. A pata estava presa num cabo de aço e o animal “apresentava um traumatismo bastante severo”. “Matei-lhe a fome e a sede e depois o hospital veterinário da UTAD e o ICNB (Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade) vieram buscá-lo”.

O lobo-ibérico – de uma espécie protegida e que se estima estar reduzido a cerca de 300 animais e 60 alcateias – foi tratado com um contacto mínimo com as pessoas. Segundo disse à agência Lusa José Paulo Pires, director-adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas – Norte, do ICNB, o lobo revelou ter tido uma boa recuperação clínica da lesão que sofreu, fez uma boa cicatrização, aumentou de peso, ganhou robustez e manteve a sua agilidade. “Concluiu-se que estaria em condições de sobreviver autonomamente e optou-se pela sua libertação”, salientou o responsável.

O animal foi restituído à natureza na quinta-feira passada, com uma coleira GPS. “Já é possível saber que ele andou alguns quilómetros, mas ainda não é muito significativo porque ele, neste momento, está numa fase de explorar e reconhecer o território”, salientou José Paulo Pires.

Francisco Álvares, investigador do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) e que estuda o lobo-ibérico desde 1994, considera que este caso pode trazer “informação valiosa”. Tudo porque, disse ao PÚBLICO, ao contrário do que é feito para as aves de rapina, por exemplo, este é o primeiro caso em Portugal de um “lobo capturado na natureza, tratado num hospital e depois devolvido à liberdade”. Mesmo a nível internacional são pouquíssimos os casos. “Podemos saber se estes animais conseguem adaptar-se e reintegrar-se nas alcateias”. O seguimento do lobo por GPS foi responsabilidade do ICNB mas agora tem a assessoria científica do CIBIO.

“A ideia é que se junte ao resto da alcateia. Ainda anteontem vimos alguns lobos, mas não sabemos se serão da mesma alcateia”, disse o veterinário Domingos Moura. “Contrariamente ao que acontecia há 30 ou 40 anos, a reacção das populações locais está a ser óptima”, considera. “Pensando que seria eu a restituir o animal à liberdade, diziam-me para eu fazer o que pudesse para ajudá-lo, para não olhar a meios. Só me pediam uma coisa: ‘quando o libertar, liberte-o longe dos meus rebanhos’”.

Esta mudança de mentalidades tem uma explicação, disse. “Quando havia muitos lobos, não haviam javalis nem raposas. Hoje, os lobos praticamente desapareceram", sendo mesmo uma espécie classificada como Em Perigo, pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. "Os agricultores queixam-se do aumento exponencial do número de javalis, que destroem os campos de milhos, os lameiros, tudo". E as raposas destroem as perdizes e os coelhos-bravos, “que quase não há nenhuns por aqui”. “Reconhecem que, afinal, o lobo lhes faz falta.”

As armadilhas ilegais, "normalmente direccionadas ao javali, são uma ameaça ao lobo e a toda a fauna selvagem", disse Francisco Álvares. Este é um problema "com uma incidência muito maior do que pensamos" e "demonstra a necessidade de uma fiscalização e controlo destes laços ilegais".