Vila do Conde, a terra dos sonhos por encomenda

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Land of My Dreams, do francês Yann Gonzalez, ainda em rodagem DR/Cortesia do festival de curtas de vila do conde

Se existe um foco nas celebrações dos 20 anos do Curtas Vila do Conde, ele está forçosamente nos novos filmes que a organização do festival encomendou especificamente para a comemoração, a partir de dois projectos que chegam de modos diferentes ao mesmo sítio. De um lado, está o programa de formação de técnicos de cinema Campus/Estaleiro, consubstanciado em quatro filmes rodados na região de Vila do Conde por realizadores portugueses (Graça Castanheira, João Canijo, Luís Alves de Matos e Pedro Flores) com equipas compostas por estudantes do programa. Do outro, a iniciativa 4 Filmes x 4 Realizadores, que comissariou mais quatro filmes, também feitos na região mas por cineastas estrangeiros.

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Se existe um foco nas celebrações dos 20 anos do Curtas Vila do Conde, ele está forçosamente nos novos filmes que a organização do festival encomendou especificamente para a comemoração, a partir de dois projectos que chegam de modos diferentes ao mesmo sítio. De um lado, está o programa de formação de técnicos de cinema Campus/Estaleiro, consubstanciado em quatro filmes rodados na região de Vila do Conde por realizadores portugueses (Graça Castanheira, João Canijo, Luís Alves de Matos e Pedro Flores) com equipas compostas por estudantes do programa. Do outro, a iniciativa 4 Filmes x 4 Realizadores, que comissariou mais quatro filmes, também feitos na região mas por cineastas estrangeiros.

Hoje começam a revelar-se os resultados dessas encomendas, com a exibição das primeiras três curtas encomendadas a três realizadores da "família" do festival. O primeiro programa 4 Filmes x 4 Realizadores (22h30, repete sábado 14 às 17h) mostra assim em estreia mundial O Canto do Rocha, do brasileiro Helvécio Marins Jr., O Milagre de Santo António, do bielorrusso Sergei Loznitsa, e Land of My Dreams, do francês Yann Gonzalez.

Marins, membro do júri do Curtas em 2011, foi um dos fundadores do colectivo de produção brasileiro Teia, que tem participado noutros festivais (Acácio e A Falta que Me Faz, de Marília Rocha, estiveram no DocLisboa, O Céu sobre os Ombros, de Sérgio Borges, no IndieLisboa), e será igualmente alvo de uma retrospectiva das suas curtas (quarta, 11, 15h) e da exibição da sua aclamada primeira longa, Girimunho (2011; amanhã, 23h30). Loznitsa viu a sua primeira longa-metragem, A Minha Alegria (2010), estrear-se comercialmente por cá, depois de várias curtas e documentários terem sido exibidos no Curtas e no DocLisboa. Gonzalez, por seu lado, teve a sua primeira curta By the Kiss premiada no Curtas 2007 e todos os seus filmes foram seleccionados para o festival.

Ao telefone de Edimburgo, Helvécio Marins explica que a sua contribuição, O Canto do Rocha, um documentário rodado no bairro portuense das Fontainhas com inspiração no trabalho do fotógrafo André Cepeda, apenas ganhou consistência durante a preparação: "Na hora disse que sim, e o importante foi ter tido uma semana de repérage, sem a qual não sei se aceitaria. Tinha cerca de oito ideias diferentes. Fomos conversando, vendo o que acontecia, mas na repérage fui descobrindo uma série de outras coisas e acabei adoptando um outro caminho: filmar um pouco de um certo quotidiano português."

Yann Gonzalez, por seu lado, partiu para uma ficção, Land of My Dreams, sobre o reencontro entre uma filha (Julie Brémond) e uma mãe (Paula Guedes), rodada na cidade do Porto e inspirada por uma canção de Anna Domino. Por email de França, diz ao PÚBLICO que visitou várias vezes o Porto para mergulhar na cidade, para se impregnar da sua luz, dos seus lugares. "Sabia que, por muito que tentasse, seria sempre um estranho no Porto, com uma visão de turista, e que a única maneira de evitar os lugares-comuns seria fazer apelo ao imaginário, à fantasia", explica. Para escapar havia que "criar uma nova cidade, secreta e íntima, a partir das sensações".

Sergei Loznitsa dedica O Milagre de Santo António à tradição da bênção dos animais em Santo António de Mixões da Serra, no Gerês, realizando um documentário resultante de dez dias de descobertas que fez sozinho na região norte. Nuno Rodrigues, um dos directores de Vila do Conde e produtor do filme, explica a ideia de Loznitsa: "Procurar lugares remotos, pequenas aldeias onde existisse pouca gente, algo que remetesse para coisas que se encontravam noutros documentários dele. Queria ver rostos, lugares, pessoas, descobrir situações." 4 Filmes x 4 Realizadores completa-se com a exibição separada de Reconversão, do americano Thom Andersen, sobre a obra do arquitecto Eduardo Souto de Moura (quinta, 12, meia-noite, e domingo, 15, 21h45).

Amanhã, segunda-feira, será a vez de começar a revelar os filmes do projecto Campus/Estaleiro. A primeira sessão (amanhã, 22h30) reúne Cinzas, Ensaio sobre o Fogo, de Pedro Flores (sobre o Gerês), Um Rio Chamado Ave, de Luís Alves de Matos (sobre o rio Ave), e A Rua da Estrada, de Graça Castanheira (inspirado pelo livro do geógrafo Álvaro Domingues). A segunda (quarta, 11, meia-noite) é inteiramente preenchido pela quase-longa Obrigação, de João Canijo, ambientada no bairro de pescadores das Caxinas, em Vila do Conde.