Rodrigo Areias: Portugal é actualmente um país anestesiado e “sem reacção”

O recém-estreado “Estrada de Palha" é uma “metáfora do Portugal moderno”, diz o cineasta de 34 anos. E também "uma pequena homenagem a um país que tinha outra atitude"

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Manuel Roberto

O realizador português Rodrigo Areias, autor do recém-estreado “Estrada de Palha”, afirmou este domingo, numa entrevista à agência espanhola EFE, que anseia por um Portugal mais empenhado e pró-activo.

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O realizador português Rodrigo Areias, autor do recém-estreado “Estrada de Palha”, afirmou este domingo, numa entrevista à agência espanhola EFE, que anseia por um Portugal mais empenhado e pró-activo.

O realizador falava na República Checa, onde o filme português integra a competição oficial do The Karlovy Vary International Film Festival, evento que arrancou na passada sexta-feira.

“É uma pequena homenagem a um país que tinha outra atitude, que hoje não existe. Hoje vivemos anestesiados, sem reacção”, afirmou Areias.

“Estrada de Palha” é um “western”, um género cinematográfico pouco explorado no cinema português, cuja acção decorre no início do século XX, após o regicídio, mas ainda antes da implantação da República.

É a história de um homem que regressa a Portugal, vindo da Lapónia, para vingar a morte do irmão, numa aventura em que se faz acompanhar, no bolso, do livro “Desobediência Civil”, de Henry David Thoreau.

O filme, segundo o realizador, aborda o desejo de tempos melhores, uma inspiração que tenta romper com a “apatia” de um povo que actualmente atravessa sérias dificuldades económicas e sociais.

“Esse é o problema de Portugal, ninguém acredita em nada e ninguém aposta. Se tens mais de 50% de abstenção nas eleições, alguma coisa está errada. Com o Portugal actual, a abstenção fala de um problema de uma geração”, frisou Rodrigo Areias, de 34 anos.

Apesar de não ser um manifesto político, o filme, de acordo com o realizador, é uma “metáfora do Portugal moderno”, mencionando a utilização da palha nas entradas das aldeias, para esconder os excrementos dos animais.

“Colocas palha e a sujidade desaparece, mas ela continua lá”, ironizou Rodrigo Areias, cuja primeira longa-metragem, “Tebas”, foi lançada em 2007.

O filme foi rodado entre a Serra da Estrela e o Alto Alentejo — além de uma série de planos feitos na Lapónia — “respeitando o trajecto da transumância do gado serrano, um dos principais motores económicos da Península Ibérica durante mais de cinco séculos”, explicou, no Verão passado, o realizador à agência Lusa quando o filme foi apresentado no festival de Vila do Conde.

Com Vítor Correia, Nuno Melo e Angelo Torres nos principais papéis, “Estrada de Palha” tem banda sonora de Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) e Rita Redshoes. O filme estreou-se nas salas portuguesas na passada quinta-feira.