UNESCO pede a Portugal para abrandar “significativamente” construção da barragem de Foz Tua
O comité da UNESCO está reunido em São Petersburgo, na Rússia.
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O comité da UNESCO está reunido em São Petersburgo, na Rússia.
Segundo disse à agência Lusa fonte do gabinete de imprensa da organização, o comité decidiu hoje pedir a Portugal “que abrande significativamente o trabalho na barragem, enquanto está a ser realizado um estudo sobre o seu impacto no local”.
O texto final desta decisão, segundo a fonte, só estará disponível no final do encontro, agendado para 6 de Julho.
No entanto, sabe-se já que o caso do Alto Douro Vinhateiro (ADV) voltará a ser analisado no próximo encontro da UNESCO, em 2013.
A proposta que estava em cima da mesa neste encontro recomendava a suspensão da construção da Barragem de Foz Tua, que se encontra em obra há 15 meses, entre os concelhos de Alijó e Carrazeda de Ansiães.
A obra começou pouco depois de uma passagem pelo Douro da ICOMOS, órgão consultivo da UNESCO, uma situação que fez com que o comité colocasse em causa o comportamento do Governo português ao longo do processo.
A ICOMOS considerou “grave” e “irreversível” o impacto da hidroeléctrica sobre o património mundial e, por isso, aconselhou a paragem das obras até à visita de uma missão conjunta ao local.
Recentemente, a ministra do Ambiente, Assunção Cristas, defendeu que a barragem de Foz Tua é compatível com a classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade e afastou a possibilidade de suspender as obras por falta de verbas.
“Íamos a tempo de parar, se tivéssemos no nosso bolso os montantes para pagar as indemnizações necessárias, que são de várias centenas de milhões de euros”, disse Assunção Cristas no Parlamento.
O Partido Ecologista “Os Verdes” anunciou que enviou um contributo para o debate sobre o Douro, que decorreu em São Petersburgo. A dirigente Manuela Cunha explicou à Lusa que o documento se assume como um contraditório aos argumentos do Governo.
A responsável afirmou que o Património Mundial “não é compatível” com a barragem e salientou que ainda não existe ou está pronto o projecto de compatibilização da central hidroeléctrica com a paisagem, que a EDP encomendou ao arquitecto Souto Moura.
Não existe também, acrescentou, “nenhum estudo de impacte ambiental das consequências desse projecto”.
Manuela Cunha acusou ainda o Governo de “falta de informação” sobre o processo e de “nunca ter dado conhecimento das respostas dadas à UNESCO” sobre o ADV.
O Douro foi distinguido como Património Mundial da Humanidade em 2001.
Assunção Cristas referiu que a barragem ocupa apenas 2,9 hectares do ADV, o que representa 0,001 por cento do total da área, pelo que considerou que aquela infra-estrutura não causa grande impacto na paisagem.