Crise leva licenciados a procurar trabalho como nadadores-salvadores

Costa alentejana atrai mais jovens nadadores-salvadores. “Dificuldades financeiras” justifica aumento da procura

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Paulo Pimenta

Ao contrário dos últimos anos, a Associação de Nadadores Salvadores do Litoral Alentejano conseguiu reunir colaboradores suficientes para começar sem problemas a época balnear, situação que atribui às dificuldades financeiras que os jovens atravessam.

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Ao contrário dos últimos anos, a Associação de Nadadores Salvadores do Litoral Alentejano conseguiu reunir colaboradores suficientes para começar sem problemas a época balnear, situação que atribui às dificuldades financeiras que os jovens atravessam.

 

Pela primeira vez, em 11 anos de existência, a associação conseguiu dar início à época balnear na costa alentejana com os 28 nadadores-salvadores necessários para assegurar a vigilância de 14 praias e duas piscinas, contando ainda com alguns “suplentes”, disse à agência Lusa António Mestre, coordenador da associação.

 

O responsável explica esta maior procura com as “dificuldades financeiras” que os jovens sentem, servindo esta ocupação para “pagar os estudos e ajudar as famílias”.

 

“O poder de compra das pessoas diminuiu bastante. Então, há filhos que tiveram de arregaçar as mangas”, comentou, considerando que ser nadador-salvador “é um recurso que as pessoas encontraram”.

 

Segundo António Mestre, a “grande maioria” dos nadadores-salvadores que trabalham na associação Resgate, cuja área de atuação se estende pelos concelhos de Santiago do Cacém, Sines e Odemira, é licenciados e estudantes do ensino superior ou secundário. “São pessoas formadas, mas aqui o estatuto não interessa, o que interessa é ter algum rendimento para fazer frente a algumas necessidades básicas”, afirmou. 

 

A título de exemplo, o responsável indicou que, este ano, vão estar a trabalhar nas praias de Odemira “um engenheiro electrotécnico, formado em Londres, e uma jovem arquitecta”. 

 

O coordenador da Resgate explicou que o curso de formação de nadador-salvador “fica pago no primeiro mês”, uma vez que, “aqui, um iniciante não tira menos de 900 euros mensais, fora os apoios sociais”, o que permite “acumular algum pé-de-meia” durante os três meses de Verão.

 

Na praia Vasco da Gama, na cidade de Sines, a Lusa foi encontrar dois licenciados, em Direito e em Educação Física e Desporto. Bruno Pilar, 29 anos, partiu de Santarém em direcção à costa alentejana para desempenhar, pela primeira vez, a função de nadador-salvador. Terminou o curso de Direito, na Universidade de Lisboa, em 2009, mas não chegou a concluir o estágio profissional de admissão à Ordem dos Advogados, “pois não tinha qualquer remuneração”.

 

No final de Abril de 2012, concluiu um estágio profissional remunerado de um ano numa câmara municipal, tendo ficado sem trabalho. Agora, pretende “suspender a área jurídica e tentar outras”, como a vigilância de praias ou piscinas, não pondo de lado a hipótese de emigrar com a namorada. “Não temos qualquer perspetiva aqui de termos sequer um filho”, lamentou.

 

Para Elsa Cardoso, 25 anos, de Penafiel, o dinheiro que ganha como nadadora-salvadora “faz toda a diferença” no seu rendimento anual, além de poder “estar em contacto com o mar, a areia e as pessoas”, juntando o útil ao agradável.

 

Licenciada em Educação Física e Desporto, com um mestrado e a terminar outro na área do ensino, trabalha como instrutora de natação e hidroginástica, bem como nas actividades de enriquecimento curricular para alunos do primeiro ciclo do ensino básico.

 

Durante o Verão, estas actividades são suspensas e parar entre junho e setembro iria colocá-la numa situação “difícil”, já que ganha apenas o suficiente “para o mês”.

 

Este ano, decidiu procurar as praias alentejanas, pelo gosto pela aventura e para conhecer melhor a zona, onde só tinha estado “de passagem”. Desde o início da época balnear, a 15 de Junho, já fez dois salvamentos.