Mariana foi para a Amazónia estudar macacos
Dizem que há um português em cada canto do mundo. Parece que é verdade. No meio da Amazónia, encontrámos Mariana Mota, futura bióloga que está a estudar o comportamento dos "barrigudos"
Durante uns tempos, Tony, o robusto chefe do grupo, andou a testá-la. Seguia-a para todo o lado, fixava-a de cima das árvores para ver o que fazia. A Aninhas é a mais velha e, tal como a Lilica, tem um filho. A Jocleia, a Lua e a Sol são as mais difíceis de distinguir, enquanto que a Bruninha é a preferida. Foi Mariana que baptizou a filha — Gordita, em homenagem a uma amiga. Juntos já a protegeram, ao emitirem vocalizações quando uma cobra, o perigo, estava à espreita.
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Durante uns tempos, Tony, o robusto chefe do grupo, andou a testá-la. Seguia-a para todo o lado, fixava-a de cima das árvores para ver o que fazia. A Aninhas é a mais velha e, tal como a Lilica, tem um filho. A Jocleia, a Lua e a Sol são as mais difíceis de distinguir, enquanto que a Bruninha é a preferida. Foi Mariana que baptizou a filha — Gordita, em homenagem a uma amiga. Juntos já a protegeram, ao emitirem vocalizações quando uma cobra, o perigo, estava à espreita.
Mariana Mota, finalista de Biologia de 22 anos, portuguesa, fala deles como se descrevesse uma grande família. A poucos quilómetros de Manaus, mas já em plena Amazónia brasileira, situa-se a Floresta dos Macacos, o centro de reintegração de primatas da Fundação Floresta Viva, mantida pelo Amazon Ecopark Jungle Lodge, onde vivem actualmente 16 macacos-barrigudos e um uacari-vermelho (a Zita). Estes animais foram confiscados das redes de contrabando ou mantidos ilegalmente em cativeiro e aqui são reintroduzidos na selva com acompanhamento.
Vinda da Universidade de Aveiro, Mariana decidiu fazer o estágio (opcional) do último ano de curso no meio dos macacos. Ir para a Amazónia sempre fora um "sonho", desde que em criança via aqueles documentários da BBC Vida Selvagem. Arregaçou as mangas, ganhou coragem e candidatou-se ao intercâmbio com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) quando soube que havia uma vaga para trabalhar com mamíferos e comportamento animal (outro "sonho"). Depois foi só arranjar um convénio entre a UFAM e a Floresta Viva. Ganhou uma bolsa para a viagem, mas vive sem qualquer remuneração. Tem a sorte de ser recebida no hotel, salienta.
E as girafas em África?
A futura bióloga chegou a Manaus no início do ano e regressa a Portugal em Dezembro. Vai estar doze meses a estudar o comportamento animal destes primatas. Uma vez que são animais reintroduzidos e estão, portanto, numa área que não lhes é natural, vai estudar as interacções entre os macacos-barrigudos, entre eles e as outras espécies, a alimentação (a fornecida pela Floresta Viva e a obtida naturalmente na selva) e a área de uso. Não há estudos muito aprofundados sobre esta espécie, por isso, no final, depois de relatórios e apresentações nos dois países, Mariana confessa uma leve expectativa: "se conseguisse uma publicação [em revistas da especialidade] seria ainda melhor".
Estar aqui, porém, já é suficientemente bom. É uma experiência completamente "diferente" daquela que teria do outro lado do Atlântico, claro. Já estudou veados e javalis, trabalhou com musaranhos, mas os primatas "são seres fascinantes" e "surpreendentes". Até conseguiram acalmar, um pouquinho, o desejo de partir para África para estudar girafas. "São o meu animal preferido", confessa.
Segue-se o mestrado, em Aveiro, na Amazónia ou em ambas as universidades. Depois o doutoramento, provavelmente. "Não sei onde, nem como, é tão incerto." África continua nos planos, até para ganhar "outra visão". Para já fica uma vontade: "estar no mato é ainda melhor do que eu pensava porque há coisas aqui que nunca pensei que pudesse viver." E que coisas são essas? "Ver botos, golfinhos de rio, a nadar na minha direcção; ver aranhas bonitas e assustadoras; comunicar com macacos ao fazer estalidos com a boca; ver um sauim, uma espécie que está em vias de extinção, tão de perto." E são só alguns exemplos.