Ex-governante reafirma que Mário Lino disse que empresas de Godinho eram “amigas do PS”
No depoimento por escrito enviado ao Juízo de Instância Criminal de Ovar, que tem sob a sua alçada o processo “Face Oculta”, Ana Paula Vitorino mantém tudo o que disse em depoimentos anteriores.
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No depoimento por escrito enviado ao Juízo de Instância Criminal de Ovar, que tem sob a sua alçada o processo “Face Oculta”, Ana Paula Vitorino mantém tudo o que disse em depoimentos anteriores.
“Na primeira vez que falou da O2, o então ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, engenheiro Mário Lino, disse-me que era uma empresa amiga do PS e que havia pessoas importantes do partido muito preocupadas com o comportamento inflexível do Pardal [à data presidente da Refer]”, contou Ana Paula Vitorino.
No documento, a que a Lusa teve acesso, a ex-governante e actual deputada do PS diz ainda que quando respondeu a Mário Lino que nem queria falar no assunto, este ter-lhe-á lembrado que era, à data, do Secretariado Nacional do partido.
“Respondi-lhe que isso me dava preocupações acrescidas de seriedade e que estava farta que os partidos tivessem as costas largas”, declarou, no depoimento.
A antiga secretária de Estado dos Transportes no Governo de José Sócrates adiantou ainda que no meio da conversa, os únicos nomes que foram referidos foram os de Armando Vara e de Fernando Lopes Barreira, co-arguidos no processo.
Ana Paula Vitorino desmentiu, assim, o ex-ministro das Obras Públicas Mário Lino, que no seu depoimento perante o colectivo de juízes que está a julgar o caso, negou ter-se referido às empresas do sucateiro Manuel Godinho como “amigas do PS”.
As contradições entre Ana Paula Vitorino e Mário Lino já tinham ficado patentes na fase de instrução, quando o antigo ministro negou ter mantido tal conversa com a sua secretária de Estado dos Transportes e disse não conseguir obter explicação para essas “injuriosas” considerações.
No seu depoimento por escrito, Ana Paula Vitorino conta ainda que não concordou com a realização de uma reunião entre o sucateiro Manuel Godinho e a Refer, representada pelo então presidente e vice-presidente, Luís Pardal e Vicente Pereira, respectivamente.
“Não concordei com a realização desta reunião, que se realizou por se tratar de uma orientação do ministro da tutela”, disse Ana Paula Vitorino, em resposta a uma questão do Ministério Público.
A deputada socialista afirmou ainda ter tido conhecimento que Mário Lino falou “diversas vezes” com Luís Pardal sobre as relações entre a Refer e as empresas de Manuel Godinho, confirmando a versão do ex-presidente da empresa responsável pela Rede Ferroviária Nacional.
Durante a sessão de julgamento de 11 de Abril, Luís Pardal disse ter sido abordado “repetidamente” pelo ex-ministro sobre as queixas de Godinho relativamente à Refer, que o chegou a excluir da lista de fornecedores qualificados, alegando um histórico de condutas suspeitas.
Ana Paula Vitorino respondeu a dezenas de perguntas do Ministério Público e das defesas dos arguidos Armando Vara e Carlos Vasconcellos.
A ex-secretária de Estado dos Transportes prestou depoimento por escrito, como testemunha no processo “Face Oculta”, usando a prerrogativa que o cargo de deputado à Assembleia da República lhe confere.