Igreja Católica distingue Nuno Teotónio Pereira
Além do percurso profissional cívico de Teotónio Pereira, o júri destaca: “Num momento nacional dramático para a arquitectura, profissão que tem sido duramente flagelada pela crise económica, pensamos que a estatura ética e criativa de Nuno Teotónio Pereira representam uma lição de humanidade para todos nós e uma luz oportuníssima para pensar o lugar e o modo da arquitectura reinscrever-se no presente e no futuro.”
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Além do percurso profissional cívico de Teotónio Pereira, o júri destaca: “Num momento nacional dramático para a arquitectura, profissão que tem sido duramente flagelada pela crise económica, pensamos que a estatura ética e criativa de Nuno Teotónio Pereira representam uma lição de humanidade para todos nós e uma luz oportuníssima para pensar o lugar e o modo da arquitectura reinscrever-se no presente e no futuro.”
Em declarações ao site do SNPC, Teotónio Pereira afirmou: “Sou contra as injustiças sociais, haver tanta gente pobre, tanta desigualdade nos rendimentos. Esta desigualdade sempre me impressionou muito e sempre achei que a Igreja devia lutar mais contra isso.”
A acta do júri recorda que, um ano antes de se diplomar na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, em 1949, Teotónio Pereira fez uma comunicação ao Congresso Nacional de Arquitectura sobre “Habitação Económica e Reajustamento Social”.
Nessa intervenção, diz o júri do SNPC católico, Nuno Teotónio Pereira “anunciava um paradigma de arquitectura comprometida com os direitos fundamentais da pessoa humana e com a transformação estética e política do mundo”. Uma atitude que estaria presente em várias funções do arquitecto ao longo da sua vida profissional, entre as quais a de consultor de Habitações Económicas na Federação das Caixas de Previdência, responsável pelo primeiro concurso de soluções arquitectónicas para habitação de renda controlada ou relator do primeiro plano sectorial de Habitação – Plano Intercalar de Fomento, “documento pioneiro na identificação das carências habitacionais do nosso país”, como diz a acta do júri.
Nascido em 1922, Nuno Teotónio Pereira foi um dos autores da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, classificada como monumento nacional – e onde decorreu recentemente uma homenagem por ocasião dos 90 anos do arquitecto. Esse projecto, elaborado com Nuno Portas, surgiu na sequência da criação, em 1952, do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR). Dele faziam parte, entre outros, artistas plásticos como José Escada, Jorge Vieira, Cargaleiro, Madalena Cabral ou Eduardo Nery, e arquitectos como Nuno Portas, Luís Cunha, Diogo Lino Pimentel ou Formosinho Sanches.
Teotónio Pereira foi o primeiro presidente do MRAR, que se definia como “uma comunidade católica de artistas, com o fim genérico de promover, em todos os domínios da arte religiosa, o encontro de uma verdadeira criação artística com as exigências do espírito cristão”.
Este movimento deu um grande contributo para a recepção das mudanças provocadas pelo Concílio Vaticano II (1962-65), a reunião dos bispos católicos de todo o mundo que encetou o movimento de reforma da Igreja. Na acta do júri que decidiu o prémio, refere-se “uma história curiosa, que atesta bem como a arte e a dimensão moral do percurso de Nuno Teotónio Pereira se conjugam para constituir uma fecunda árvore da vida”: foi enquanto estava preso por razões políticas (o arquitecto esteve detido três vezes, entre 1967 e 1974), na prisão de Caxias, que Teotónio Pereira desenhou o sacrário da Igreja do Coração de Jesus.
O prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes, no valor de 2500 euros, patrocinado pela Rádio Renascença, e uma escultura de Alberto Carneiro, será entregue em Lisboa, em data e local a anunciar. Esta distinção é mais uma entre as muitas que recebeu Teotónio Pereira ao longo da sua vida, incluindo três prémios Valmor.
Nas anteriores edições, este prémio, que pretende distinguir personalidades que colocam em diálogo a fé e a cultura, já distinguiu o poeta Fernando Echevarria, o cientista Luís Archer, o cineasta Manoel de Oliveira, a professora de Estudos Clássicos Maria Helena da Rocha Pereira, o político e intelectual Adriano Moreira, o Departamento de Património Histórico da Diocese de Beja e o compositor Eurico Carrapatoso.