A porta-voz de Hollande e o seu “triplo simbolismo”: jovem, mulher e de origem africana
Foi porta-voz de Ségolène Royal, agora está no Governo de Hollande. Aos 34 anos, Najat Vallaud-Belkacem, a cara mais nova do executivo socialista francês, assume o Ministério dos Direitos das Mulheres. É jovem, mãe e de origem estrangeira
Foi num voo para o Porto que Najat Vallaud-Belkacem perdeu a timidez. Uma coincidência pô-la dentro do mesmo avião de Ségolène Royal, no final de 2006, pouco depois de esta ter sido eleita a candidata socialista à presidência francesa. Najat dirigiu-se a Ségolène Royal e ofereceu-se para trabalhar com ela.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Foi num voo para o Porto que Najat Vallaud-Belkacem perdeu a timidez. Uma coincidência pô-la dentro do mesmo avião de Ségolène Royal, no final de 2006, pouco depois de esta ter sido eleita a candidata socialista à presidência francesa. Najat dirigiu-se a Ségolène Royal e ofereceu-se para trabalhar com ela.
Estava dado um passo decisivo na carreira política da jovem de 34 anos. Passado pouco tempo era uma das três porta-vozes de Ségolène Royal e, apesar da não eleição da socialista, o percurso de Najat na política não parou mais: assumiu, em 2009, a secretaria nacional do partido para questões sociais e mais tarde acabaria por chegar o convite para integrar o Governo de François Hollande.
Analisando o percurso de Najat – e apesar do envolvimento em associativismos locais - a ligação à política não se adivinharia facilmente. Em casa dos pais só se falava do assunto quando Jean-Marie Le Pen, fundador e então líder do partido de extrema direita Frente Nacional (FN), aparecia na televisão.
Contra a extrema-direita
Seria também por Le Pen – quando a 21 de Abril de 2002 este passou à segunda volta das presidenciais – que viria a filiar-se no Partido Socialista, relata Najat no livro “Raison Le Plus!”, publicado em Março: “Continuar com a minha vida como se não tivesse acontecido nada e deixar que fossem os outros a fazer política pareceu-me inconcebível.”
Najat Vallaud-Belkacem nasceu em Marrocos, é neta de uma espanhola e de uma argentina e foi para Amiens, no norte de França, aos quatro anos, quando o pai emigrou para trabalhar na construção civil. Em Amiens estudou Direito e viajou depois para a capital, para o Instituto de Estudos Políticos de Paris, onde se licenciou. Na biblioteca conhece o actual marido e pai dos dois filhos, gémeos, com quase quatro anos.
Aos 34 anos, 16 depois de se ter naturalizado francesa, a jovem assume o lugar de porta-voz do Governo de François Hollande, onde lidera também o Ministério dos Direitos das Mulheres, no primeiro executivo francês com uma equidade perfeita: 17 homens e 17 mulheres.
“Ela gosta de ter sucesso, sem arrogância, sem atropelar ninguém.” A definição é do próprio presidente francês, em entrevista à revista Elle, que a escolheu para o seu executivo pelo “conhecimento do terreno e dos dossiers”, mas também pela ambição que lhe reconhece.
Com um site próprio e uma página de Facebook bastante activa, Najat Belkacem opta por uma política de proximidade - apesar de não ter respondido ao pedido de entrevista do P3 - e destaca-se pela ligação a temas da juventude, emprego e direitos das mulheres.
Apesar da timidez que lhe atribuem, Najat atingiu rapidamente um protagonismo significativo, num cenário em que tanto a extrema direita de Marine Le Pen como o Nicolas Sarkozy assumiram um forte discurso anti-imigração e anti-islâmico. Mas, ao lado de Hollande e do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, Najat Vallaud-Belkacem insiste que não quer ser reconhecida pelo seu “simbolismo triplo” - mulher, jovem e de origem africana -, mas antes pela sua legitimidade política.
Hollande deu já um passo importante para conseguir constituir Governo: feitas as contas da primeira volta das legislativas, o Partido Socialista Francês espera obter uma maioria absoluta com os seus aliados mais próximos. No domingo, dia 12 de Junho, chegam as confirmações.